terça-feira, 24 de setembro de 2013

Mulheres poderosas, homens perdidos


O mundo mudou.

Para quem viveu a época em que ser o melhor cara da rua no telejogo era motivo de discussão e até de tapas entre a criançada, (caso você seja da geração Y, Z, e não tenha a mínima ideia do que estou falando, telejogo foi o "videogame" mais rudimentar e tosco que já existiu), os jogos interativos de hoje com realidade virtual, controle wireless e tal e cousa e lousa e maripousa, parecem mágica Wicca.

E o que falar do velho CP-500 da prológica com 64k de memória RAM (para se ter uma ideia, hoje em dia qualquer chip de cartão de débito tem umas 1.000 vezes isso aí), computador do tamanho de uma máquina de lavar louça, que usava disquetes de plástico, monitor de fósforo verde com pixels do tamanho de um dedo e rodava programas em basic?

Lembro também dos velhos telefones de discar, que os pais normalmente trancavam com um cadeado, e, todo moleque, conseguia burlar e usar "clicando" no gancho o número que se queria chamar.
Sem mencionar que uma linha de telefone fixo, que hoje quase ninguém tem mais, custava tanto, mas tanto que era declarada no imposto de renda!

E o politicamente correto? Acho que essas duas palavras nunca foram utilizadas juntas na década de 80! Para se ter uma noção, os trapalhões, que eram a antítese do PC, formados por um cearense, um negro bebum, um Dedé, caricatura de homossexual, e um careca esquisito, foi o programa mais assistido da televisão brasileira por muito tempo.

Televisão essa que era um trambolho de tubo, que não pegava em canto algum, tinha quatro ou cinco canais e só passava filme dublado. Nesses tempos idos, ir ao cinema era quase como sair à noite. Só se podia ir de calça, blusa social e ainda tinha o lanterninha, que tinha como objetivo de vida, encher o saco de todo mundo.

Economicamente, vivíamos o auge da inflação "a la" Alemanha do entre guerras. Os bancos ganhavam rios de dinheiro com o overnight, os preços tinham que ser reajustados a uma velocidade que faria inveja ao Usaim Bolt e, todo dia 10, os supermercados estavam lotados, pois era o dia de receber salário que, no dia seguinte, não valia mais nada.

Coitada da nossa moeda, mudou mais de nome que o José Dirceu. Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro Real, Real... Enfim, era um samba do crioulo doido!

Não vou nem citar as carroças que chamávamos de automóveis... Se você não gosta do Uno Mille, do Ford Ka ou do Fiesta, é porque não teve que andar de Fiat 147 (Meu Deus, Pai! O que você fumou quando comprou aquela geringonça?) ou de Caravan amarela.

Mas outras coisas mais importantes também mudaram. Entre elas as liberdades individuais. Não vivemos mais em uma ditadura, onde os governadores e prefeitos das capitais eram indicados pela caserna. Temos uma democracia consolidada em que, cada um, faz o que quiser, respeitando os direitos básicos do outro.

A internet, além de aposentar as páginas amarelas e a enciclopédia Barsa, foi o estopim de uma revolução cultural e econômica jamais vista. Hoje, com um clique, se tem acesso a todos as informações e conhecimentos da espécie humana. Google sabe tudo, esta em todos os lugares e, no limite, faz o que quiser. Resumindo, Google é Deus.

Vou, entretanto, discursar sobre as relações entre homens e mulheres (insira aqui homem com homem, mulher com mulher, bichos, plantas leguminosas e qualquer outra prática moderna que lhe vier à cabeça).

A minha geração é composta de homens perdidos.

Nossos pais foram educados em um mundo diferente, em que as mulheres eram "preparadas" para serem donas de casa (a maior parte não se formou em uma faculdade) e os homens para serem provedores, os "chefes" de família...

Era um mundo tão duro quanto o atual, mas extremamente machista. Até um tempo atrás, matar uma mulher adúltera, era um atenuante na pena de um corno.

Apesar de tudo isso, era um mundo de regras mais claras. Cada um sabia seu papel, por mais que isso soe esquisito e, antes que você mulher, seja invadida pelo sagrado fogo da indignação e decida que mereço ser cozido vivo, não acho que eram valores corretos nem melhores. Só estou relatando fatos.

Naqueles dias, o homem deveria cortejar sua namorada (que tinha que casar virgem, afinal mulher de família deveria se preservar para o marido) e frequentar casas de "primas". Os casamentos aconteciam aos vinte anos de idade, a mulher tinha que fazer vista grossa para as "escapadas" do marido (a sociedade tinha mais medo de mulher divorciada que do capeta), todo mundo ia à missa de domingo e pedia "bênção" aos mais velhos.

Mas isso mudou assustadoramente rápido com a minha geração. Nós contestamos tudo, todos e mais um pouco. Como no Brasil, tudo demora um pouco mais para acontecer que no resto do mundo, a revolução sexual dos anos 60, chegou aqui na década de 80 e começo dos 90. Minha geração não queria casar cedo, começou a transar aos 16, não acreditava que se pegava AIDS com "mulheres de bem", brigava por qualquer coisa que não concordasse e acreditava que podia mudar o mundo.

E mudamos. Para melhor ou pior, depende dos valores de cada um mas, o século 21, difere tanto do anterior quanto o polo sul do deserto do Saara.

O papel dos homens e das mulheres também mudou muito, tanto no mercado de trabalho quanto nos relacionamentos. Hoje é muito comum mulheres chefes de família, que ganham mais que seus maridos, que se casam depois dos 30 anos ou, eventualmente, nem se casam.

Hoje a maior parte dos trabalhadores do Brasil são mulheres que, cada vez mais, ocupam cargos de chefia.

Nossa presidente é uma mulher! Isso seria motivo de piada nos anos 80.

Porém, esses enormes avanços femininos, deixaram uma geração de homens inseguros, que não conseguem lidar com tudo isso, afinal de contas, fomos os últimos a ser educados no mundo de "ontem”.

Ressalto que, como sempre lembro, sou anarquista por definição e cada um, na minha maneira de pensar, deve ter o direito de fazer o que quiser, sem ninguém "cagando regra".

E nisso se incluem, obviamente, as mulheres e seus direitos. Viver em uma sociedade em que todo mundo realmente é igual (apesar dos bastiões de preconceito que ainda perduram por aí) é um orgulho (até porque ajudamos a conquistar isso) e um prazer. 

Nada melhor que uma mulher inteligente e independente que saiba o que quer e que seja capaz de discutir sobre qualquer assunto.

Mas isso não muda o fato que minha geração, que está na divisão de águas entre a idade média e a era espacial, não tem a menor ideia de como se situar nesses novos tempos.

Podemos dizer que vivemos o século feminino. O poder, em todos os sentidos, é das mulheres, desde o sexual, que sempre tiveram, ao financeiro, intelectual e familiar.

Como lidar com mulheres que fascinam e atemorizam ao mesmo tempo? Como mudar anos e anos de condicionamento? Qual o papel do homem em uma sociedade em que as mulheres podem tudo ou até mais do que eles?

Essa molecada de hoje, já cresceu no mundo dos celulares 3G e, provavelmente, acha essas minhas perguntas, no mínimo bizarras.

Mas para a minha geração, foi muita informação, muita transformação, muita mudança em pouco tempo. 

Alguns se adaptaram mais rapidamente. Outros ainda estão tentando se adaptar e, uma grande parte, parece cego em tiroteio.

Não por outro motivo, os psicólogos dizem que, a cada ano que passa, aumenta exponencialmente o número de pacientes do sexo masculino. A maioria tentando se achar e se encontrar no meio desse caos.

Quase todas as revoluções que trouxeram progressos a humanidade, foram sedimentadas à base de suor e sangue. 

Muitas cabeças rolaram, literalmente, para que a revolução francesa difundisse os ideais de liberdade e igualdade que norteiam a civilização ocidental. A revolução industrial inglesa, deixou muitos camponeses e artesãos na miséria e, a abertura da economia brasileira dos anos 90, que permitiu que tivéssemos acesso a carros "normais" e computadores de verdade, quebrou muita empresa por aí.

A era atual, em termos de valores, é muito, mas muito mais evoluída do que a que nasci. Contudo, os homens da minha geração limítrofe, com um pé no passado e outro no futuro, se tornaram dinossauros modernos.

Alguém tem que pagar o preço das mudanças e, neste caso específico, estamos devendo até as calças.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Para um amigo

A paixão consome.
O ódio destrói.
Os pensamentos se perdem,
Na calada da noite, escura e fria.

Mas quem se deixar encantar,
Pelos pequenos momentos,
Pequenas Vitórias,
Guiando sua vida, e não o contrário

Vai descobrir que o outono,
E a madrugada que rasga,
Não são mais fortes que a alma,
Nem que o raiar de um novo dia.



Para meu amigo E. Martinelli

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Desbravando o planeta

Juntar bens materiais, nunca foi meu maior objetivo. Entendo o trabalho e o dinheiro não como um fim, mas como um meio que me permite conhecer pessoas, lugares e culturas diferentes, o meu norte.

Não há nada melhor que viajar. Sozinho, com amigos, com a família, com a mulher... Viajar é, para mim, uma forma de me conectar com a minha essência.

Sempre que pude e posso, viajo, seja lá como for, de mochila, de carro, de avião, barraca, hotel, chão de aeroporto...

Quando estava no primeiro ano da faculdade, tranquei um semestre e, junto com dois amigos, conhecemos todo o Nordeste Brasileiro.

Com uma lista de todos os albergues da juventude da região em mãos e uma mochila nas costas, nos jogamos, literalmente, naquela região dura e bela ao mesmo tempo.

Não levamos muito dinheiro, as vezes comíamos em restaurantes de beira de estrada, dormíamos em casas de pescadores, caminhávamos quilômetros pelas areias e dunas em busca de praias paradisíacas que nos indicavam.

Nos albergues, conhecemos gente do mundo inteiro, aventureiros que rodavam o Brasil sem eira nem beira como nós, com as quais me diverti, aprendi e vivi experiências incríveis.

Conheci todo o litoral Nordestino, desde os lençóis Maranhenses até o sul da Bahia, tomando balsas para todas as ilhas que existem por lá.

O Nordeste é uma terra incrível, cheia de contrastes, com um povo belo e sofrido que, em sua simplicidade e alegria de viver, me ensinou muito... Nessa viagem, aprendi a me virar.

Foi em Jericoacoara, se me lembro bem, em um "bar" de um Israelense que tinha largado tudo para morar no Ceará - Aqui vale um parêntese, o bar era irado, tinha uma fogueira rodeada de colchões e travesseiros, ficávamos todos deitados, vendo aquela noite linda e estrelada que só tem para aqueles lados, ouvindo um reggae e conversando - pois bem, foi nesse bar que conclui que, dali pra frente, viveria para viajar.

Já fui a China. Comecei minha viagem por Shangai e Beijin. Foi um dos lugares mais diferentes que já conheci. O idioma, a comida, as roupas, os costumes, as lojas, os bares, o trânsito, as atitudes e as construções milenares do país tem lugar especial em minhas memórias.

Visitei a Praça Tiananmmen, sede do Governo Chinês e onde em 1989, tivemos o famoso e triste episódio do massacre de estudantes. Fui também no túmulo de Mao Tse Tung e fiquei impressionado com a gigantesca avenida de 16 faixas entre a praça e o mausoléu,  completamente tomada por bicicletas. Era o trânsito em duas rodas mostrando sua cara!

Obviamente não entendia nada e, apesar da China ser o segundo país do mundo em número de pessoas fluentes em inglês, nas ruas só se falava o mandarim.

Em um determinado momento, resolvi me comunicar em português mesmo: "Garçom, traz mais uma cerveja, por favor?", e o mais impressionante é que ele trouxe.

Mas o mais legal dessa viagem foi X'ian, uma das cidades mais antigas do mundo, com cerca de 3.000 anos. Em X'ian tive contato com a verdadeira China.

Andei em um "taxi-carroça" puxado por um chinês sorridente com um chapéu em forma de cone, vi uma senhora indo ao açougue e comprando carne de cachorro (como se fosse um frango), participei de um culto budista, perambulei pela cidade antiga e finalmente entendi o porque da China e sua cultura milenar serem consideradas ímpares.

Estive nas escavações arqueológicas dos soldados Terracotas (centenas de estátuas de argila antiquíssimas) que serviam para amedrontar os inimigos da cidade que pensavam estar diante de um enorme e poderoso exército.

E óbvio, fui também a grande muralha da China onde realizei um sonho de infância: Percorrê-la enquanto eu aguentasse. Vendo aquele paredão sem fim, entendi porque ela é a única construção humana vista do espaço...

Nesta mesma época, fui com minha ex-esposa a Barcelona, uma das cidades mais charmosas que já conheci.

Claro que fui ao Nou Camp assistir uma partida do Barça. Rodei pelos diversos jardins do parque Guell, conheci a Pedreira e me impressionei com a imponência da catedral da Sagrada Família, maiores obras de Antoni Gaudi. Tive o prazer e a sorte de jantar no restaurante de um dos melhores chefs do mundo, Ferran Adria e de ter por lá um casal de amigos que, além de nos receber de braços abertos, nos mostrou a cidade, seus bares de tapas além do modo de vida catalão.

Na Europa, estive também na Rússia no período das festas de final de ano (leia-se, um frio ártico).

Passeando pelo Kremlin, sede do Governo Russo, uma fortaleza que impressiona por sua suntuosidade, fica mais fácil entender como aquele país bateu de frente com os EUA durante meio século. Hoje em dia, o passado socialista convive em harmonia com o capitalismo selvagem dos nossos tempos. Chega a ser engraçado que o túmulo de Lênin, um dos mentores da revolução bolchevique, fique exatamente em frente a um dos maiores shopping centers de Moscow.

Outro lugar interessante que conheci, foi o museu da guerra fria, um bunker que fica cerca de 100 metros embaixo da terra, cheio de túneis, feito para abrigar a população da cidade em caso de uma guerra nuclear. A claustrofobia toma conta durante o passeio, mas valeu a pena.

Caminhei pelo parque Gorky, uma espécie de Ibirapuera de gelo onde, no inverno, os Moscovitas lotam o lugar a noite para patinar por suas ruas. Todo mundo lá parece campeão de patinação artística, não vou nem começar a discursar sobre minha "performance".

Na Rússia, também descobri que o que aqui consideramos beber muito é, por lá, o que qualquer senhora de 70 anos bebe em uma hora. Não sei se é por causa do frio, mas todo mundo toma Vodka, a qualquer hora e por qualquer motivo. Se toma no metrô, no Kremlin (onde tomamos uma tal de Daburka, uma espécie de quentão que ajudava a suportar o frio de -15 graus).

Tive a sorte de assistir o quebra-nozes no Balé Bolshoi, um espetáculo difícil de explicar em palavras. Movimentos perfeitos, orquestra perfeita, todo o ambiente e imponência do teatro...

O povo é extremamente simpático e me recebeu muito bem, talvez por ser brasileiro e ninguém entender o que eu fazia na Rússia no Inverno.

Uma outra coisa engraçada é que, nessa viagem, celebrei dois anos novos e dois natais. Os russos seguem o calendário Gregoriano e, suas festividades de final de ano são alguns dias depois das datas do ocidente. Como tudo lá é motivo para beber, resolveram comemorar nos quatro dias.

E o trânsito de Moscow? Se você pensa que dirigir em São Paulo é difícil, é porque não conhece as ruas e avenidas da Russia.

Conheci muita gente e uma cultura diferente, aproveitei cada segundo, passei um frio desgraçado (os moscovitas parecem nem ligar para o clima e dizem, ironicamente, que não existe frio, você que está mal agasalhado) e aprendi um básico (bem básico) de russo.

Dali, segui para a Ucrânia, onde estive nas ruínas de Pripyat, cidade onde viviam os trabalhadores da usina de Chernobyl, que sofreu, na década de 80, o mais sério acidente nuclear da história.

Hoje em dia, ao percorrer as ruas de Pripyat, se pode ter uma ideia do que aconteceria se a espécie humana desaparecesse do planeta. A vegetação tomou conta de tudo, as árvores arrebentaram o asfalto e invadiram as janelas dos prédios, criando uma paisagem desoladora e ao mesmo tempo fascinante. As visitas são de, no máximo 3 horas, visto que a região ainda tem resquícios de radioatividade.

Fiz muitas outras viagens pelo norte do planeta, mas o que gosto mesmo, é de viajar pelo Brasil e pela América do Sul.

No Brasil já rodei muito. Além do Nordeste, morei em Floripa muitos anos percorrendo, nessa época, grande parte do Sul do país. Vivi no Rio e conheci todas as suas praias, no interior de São Paulo, de Minas, já estive em Bonito, acampei na Chapada dos Viadeiros, em fazendas de Goiás e na tríplice fronteira. Visitei o Arroio Chuí, vi a Pororoca pelos rios do Pará e conheci quase todo o litoral e ilhas deste imenso país.

Os países da América do Sul são um caso a parte. Não sou nenhum Che Guevara que percorreu todos os países do continente em sua moto, mas conheço bem as terras hermanas.

Sou fluente em castellano e literalmente apaixonado por nosso continente, principalmente quando você sai dos roteiros turísticos e se joga.

Na primeira aventura que tive, eu e dois amigos fomos até Machu Picchu no Peru. O mais legal da viagem não foi o destino final e sim o trajeto em si.

Fomos de ônibus até Corumbá, viagem que levou quase um dia, quase como um prenúncio do que estava por vir.

De lá, fomos a pé, com mochila nas costas, até a cidade de Puerto Quijarro, na Bolívia (Cerca de 6 kilometros de Corumbá), onde pegamos o trem Oriental (famoso "trem da morte"), até Santa Cruz de La Sierra.

O nome "trem da morte "vem do fato que, no passado, descarrilamentos eram comuns. Hoje não existe mais isso (ou pelo menos assim me disseram).

Se você quer uma experiência roots de verdade, o lance é desencanar e encarar a viagem. Os bancos são duros, com encosto fixo, e, como os vagões estão quase sempre lotados, muitas vezes as pessoas tem que viajar de pé ou dormir no chão, em meio a porcos e galinhas.

A lentidão da viagem (quase 18 horas) é garantida pelo pinga-pinga do comboio: ele vai catando e deixando gente em tudo quanto é vilarejo ao longo dos cerca de 640 quilômetros entre Puerto Quijarro e Santa Cruz. Mas o visual compensa. Os precipícios da cordilheira dos Andes, as enormes montanhas que cruzamos e vimos eram impressionantes. Mais imagens para guardar.

No trem, você encontra de tudo, desde limonada servida em um balde até espetinho de porco com a mesma qualidade daqueles camarões de Mongagua. A melhor coisa é levar um lanche na mochila (que deve estar sempre próxima, para que não "suma") e entregar para Deus.

Chegando a Santa Cruz de la Sierra, tomamos um ônibus que vai sacolejando pela cordilheira dos Andes até Cuzco no Peru, de onde você pode caminhar até Machu Picchu por uma das trilhas Incas.

Passei vários perrengues nessa viagem, mas aprendi muita coisa, vi paisagens inesquecíveis, pessoas que me marcaram e resquícios de uma civilização antiga dotada de uma cultura riquíssima e única.

Andei de lhama, comprei gorro boliviano, roupa típica peruana, ganhei camisa de time de futebol local, comi seviche, tomei chá de coca e, como sempre acontece nessas minhas andanças, pensei em nunca mais voltar.

E o que falar da Argentina, país que mais me encanta no mundo?

A Buenos Aires já fui várias vezes e, pelo menos uma vez por ano, perambulo por suas ruas.

É uma cidade linda, lar de um povo acolhedor, cheia de parques, museus, ruas e construções antigas, excelentes restaurantes e uma vida noturna ímpar.

Adoro acordar cedo e caminhar por suas "calles", conhecer lugares diferentes, bazares, feiras livres - como a famosa feira livre em Santelmo -, bares, estádios de futebol...

Obviamente, ali também desfruto de uma de minhas maiores paixões... Un asado con viño.

Fui também ao extremo Sul do planeta, a cidade de Ushuaya, na Patagônia, mais precisamente na terra do fogo.

Com suas imensas geleiras eternas, lagos glaciais, paisagens lunares, animais exóticos e o farol do fim do mundo, aquela região, na fronteira com o Chile, de onde saem todos os navios com destino a Antártida, é uma das mais bonitas que visitei em toda minha vida.

Perto da fronteira, estivemos no último posto dos correios do continente, onde se pode carimbar o passaporte com um símbolo do fim do mundo e descobrir, em primeira mão, se a lenda dos castores assassinos é verdade (diziam por lá que os simpáticos bichinhos são capazes de roer o osso da perna de um homem, para defender seus filhotes).

Em Ushuaya, além de percorrer de barco o cabo Horn, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico, caminhar pelas geleiras e conhecer uma das montanhas mais altas do mundo (monte Fitz Roy), conheci um casal de velhinhos mexicanos que percorreram toda a América, do Alaska a Ushuaya, em seu jipe. Confesso que fiquei com inveja da energia, disposição e da viagem que fizeram.

Em terras platinas, também estive em Córdoba, Rosário, Mendoza e Santa Fé.

Já fui da Argentina ao Uruguay de ferry boat até Punte del Este onde, depois de alguns dias, fui de carro até a praia de Atlantida, onde o Rio da Prata encontra o Oceano em uma das mais belas paisagens litorâneas do Sul do mundo, quase na fronteira com o Brasil.

Outro pais que adoro é o Chile. Santiago, rodeada pelos Andes, impressiona desde a travessia aérea sobre a cordilheira. Se pode esquiar, desfrutar de sua arquitetura, dos monumentos históricos, comer no mercado municipal y degustar un viño exquisito.

Em uma outra viagem pela região estive no Panamá e na República Dominicana. Se você quiser conhecer o Caribe, não deixe de visitar suas praias azuis e transparentes.

Encerrando o giro latino americano, quando morei em Nova York, trabalhava para um banco que tinha clientes por toda a América Latina e, por isso, fiz constantes viagens profissionais para a Colômbia, México, Venezuela...

Já rodei bastante e pretendo rodar bem mais...

E o mais legal é que cada viagem, cada destino, cada amizade, cada conversa, cada viela, cada montanha, cada praia, cada alegria que senti, cada perrengue que passei, ficará para sempre em minhas lembranças e isso nenhum dinheiro do mundo compra.

Até porque, como dizia meu avô:

"Filho, o que se leva dessa vida, é a vida que se leva. Nada mais..."