quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E nosso congresso é realmente um circo

E a votação secreta que absolveu o "deputado" Natan Donadon?

Nossa bizarra camara dos Deputados, de forma ímpar acaba de lançar mais uma moda:

Em mais um tapa na cara, uma afronta a população brasileira, deixando extremamente claro que estão pouco se lixando para a opinião pública, esses 300 picaretas com anel de Doutor criaram a figura do deputado presidiário.


Donadon será o primeiro deputado do planeta terra a comandar seu gabinete do presídio.

É uma cara de pau de dar inveja ao pinóquio. Pelo amor de Deus, o cara chegou ao plenário algemado e de camburão!

Fora os mais de 40 "representantes do povo" que nem foram ao congresso. Óbvio que todos os mensaleiros se abstiveram, afinal, amanhã serão eles os julgados.

Mas não se esqueçam, somos NÓS os culpados, afinal, fomos NÓS, e mais ninguém, que elegemos esse bando de salafrários. De longe o pior congresso de toda a história republicana.

Isso é uma vergonha! A cadeia da papuda, atual residência deste ilustre criminoso, foi devidamente homenageada por esses calhordas.



Deputados que faltaram a sessão de cassação de Natan Donadon:

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O casamento gay e a homossexualidade

Tenho minhas convicções pessoais sobre a homossexualidade e sei que cada um tem as suas, baseadas, normalmente, na época em que fomos educados (a molecada nasceu em uma sociedade mais aberta e mais tranquila em relação ao "diferente" que a minha geração, que ouviu por todo o sempre, as maiores bizarrices sobre o assunto).

Primeiramente, não vou discutir as opções sexuais de ninguém, mas sim o casamento gay, com suas implicações práticas, religiosas e legais.

Para marcar o tom do que escreverei, deixo claro que sou partidário do "laissez faire, laissez aller, laissez passer", famoso ditado francês que quer dizer algo como "deixe fazer, deixe ir, deixe passar".

Além disso, sou anarquista por convicção e não acredito que ninguém tenha o direito de ditar o que devo ou não fazer. Por coerência, devo estender esse mesmo direito aos gays, as meninas da torcida adversária, aos acadêmicos da cadeira de direito e à todas as senhoras da associação.

Ou seja, para mim, cada um faz o que quiser, desde que não atrapalhe os direitos do outro.

Isso posto, o casamento gay é um dos temas mais polêmicos dos dias atuais. Mesmo pessoas que se dizem "sem preconceito", tem reservas quanto esse assunto vem a tona.

Sejam ressalvas religiosas (quem nunca ouviu alguém dizer que casamento tem que ser homem com mulher?), práticas ("A função biológica do casamento é a perpetuação da espécie e como ficam os gays nessa? Caso optem pela adoção, como será a vida da criança, que crescerá em um ambiente depravado???") e legais (os casais gays devem ter o mesmo direito que um casal "normal"?).

Começarei pelo terceiro ponto, até porque parece ser o que mais avançou neste últimos anos e parece já ter sido digerido pela sociedade. Hoje em dia, só uma minoria (embora estridente) discorda do reconhecimento legal de relações homossexuais ("união estável") que lhes da acesso a importantes direitos civis.

Mas por mais que se permita que estes casais tenham direito ao benefício legal, sem dúvida um grande avanço, isso é o mínimo que se espera de uma democracia.

Todos são iguais perante a lei e, assim como me foi permitido casar em uma igreja (insira aqui qualquer templo religioso), todos deveriam poder fazer o mesmo. Não existem cidadãos de segunda classe.

O segundo ponto, da adoção, é o mais polêmico. O argumento utilizado é mais ou menos o seguinte:
"Certo, até concordo que eles podem se casar... mas adotar uma criança??? E os valores e os bons costumes???"

Este argumento parte do princípio que, por serem gays, os pais exporiam o fedelho adotado à situações  que não seriam expostas se tivessem pais "normais" (por exemplo uma vida promíscua). Além disso, se são gays, não devem pensar do "jeito certo" e isso certamente influirá na formação do coitado do moleque.

Nada mais absurdo.

Para mim, existem pessoas boas e pessoas nem tão legais assim. Algumas capacitadas à serem bons pais e outras nem tanto. A possibilidade de uma criança ser criada de forma adequada se esse casal for hétero ou homo é igual. Bons pais darão amor, proteção e carinho à seus filhos independente de sua orientação sexual. Até porque, o que tem isso a ver??

O que se pede é que, os agentes públicos que supervisionam a escolha de pais preparados para uma adoção, tenham o mesmo rigor (sem tirar nem por) independente do casal ser hétero ou não.

Qualquer coisa além disso é preconceito e não no sentido negativo da palavra. Como diria uma amiga, preconceito exige ter-se uma noção prévia, um conceito anterior, para julgar e analisar os fatos.

Para mim parece claro que grande parte da população não entende (ou faz força para não entender) a homossexualidade e tem "pré conceitos" criados em cima da falta de conhecimento.

Avançando ao último ponto, o religioso, aí o buraco é mais embaixo. A maior parte das religiões condena a homossexualidade. Até porque, foram concebidas milênios atrás, em uma época que o homem pensava de forma completamente diferente. 

Os clérigos tem a tendência de levar as escrituras à ferro e fogo. E não é só com os gays, a maior parte das religiões também discrimina as mulheres, por exemplo, que não podem ser padres/rabinos/sultões, e os casais que usam camisinha...

Nada mais paradoxal. Todas as religiões pregam a igualdade entre os homens e a bondade do criador, certo? Como explicar, então, que os gays sejam tratados de forma diferente? Qual o motivo para a  discriminação? Somos todos iguais e tal, mas uns mais iguais que os outros?

A parte, um Deus bondoso iria colocar de lado alguém por suas preferências sexuais?

Nesse sentido, me surpreendeu a declaração do papa argentino, que disse claramente que "os gays pertencem ao rebanho de Deus" e ainda perguntou "quem era ele para julgá-los". Frases aparentemente simples mas que, para o dignitário de uma religião que sempre se caracterizou pelo conservadorismo, são um grande avanço.

Estamos no século XXI. Um século em tivemos grandes descobertas, avanços científicos e comportamentais. Mas em alguns assuntos, parece que ainda vivemos na idade média.

Mas será que é tão difícil enxergar além do cabresto e perceber que todos tem o direito de buscar a felicidade da forma que escolherem?

Mesmo quem não concorda deveria respeita as opções e os direitos dos outros. Até porque, um dia se é cravo, no outro ferradura.

Parafraseando Voltaire, "posso não concordar com nenhuma de suas atitudes mas defenderei até a morte seu direito a fazer o que quiser".

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A última viagem do homem

O mundo terminou no dia 27 de agosto de 2036. Ou pelo menos esse foi o dia em que o oxigênio acabou. Tento não pensar em todas as pessoas que ficaram para trás, morrendo em agonia lenta, asfixiadas.

Sou um dos poucos sobreviventes da espécie humana. Tenho mais de cinquenta anos, um paradoxo, visto que os poucos escolhidos para fazer parte deste grupo são, em sua grande maioria, jovens na casa dos seus 30 anos. Ao todo, utilizando o elevador orbital que conectava a base de alcântara, na zona do Equador Brasileiro ao espaço, construímos vinte e cinco naves, cada uma do tamanho de 5 transatlânticos enfileirados.

Tento me lembrar que isso era  necessário para garantir a continuidade de nossa espécie. Muitos artistas excepcionais, escritores, músicos, poetas, filósofos e intelectuais ficaram para trás.

Tento, em vão, esquecer que ela ficou para trás...

O novo governo, que surgiu depois das guerras do oxigênio, optou por escolher somente indivíduos essenciais para a nova colônia. As naves, cada uma com capacidade para 6.000 pessoas, entre tripulantes e passageiros, estavam apinhadas de engenheiros, arquitetos, médicos, cientistas, geólogos, nutricionistas, físicos, matemáticos e biólogos.

A grande maioria foi selecionada não só por suas mentes brilhantes, mas também por seus corpos perfeitos. Não tínhamos cem por cento de certeza de como reagiríamos a dura viagem de quase dois anos pelo espaço sideral mas tínhamos certeza que os mais fortes teriam maiores chances de sobreviver a essa jornada e a vida na nova colônia.

Para garantir a ordem na lua de Saturno, o comando unido da Terra contava com cerca de 4.000 soldados, todos oriundos das melhores tropas especiais do planeta.

Uma das naves, chamada ironicamente de arca de Noé, transportava uma enorme variedade de animais e plantas. Com eles viajavam os oficiais do CPB (Comando de Preservação da Biodiversidade) um grupamento especial de veterinários, zootécnicos, botânicos e outros cientistas especialmente treinados para garantir a sobrevivência da carga viva.

Além disso, esta "arca" levava filamentos de DNA de toda a flora e fauna terrestre. Se encontrássemos condições propícias, poderíamos, um dia, cloná-los.

Tento, de novo, afastá-la de minha mente...

A maior parte do serviço braçal era feito por CSK-400s, robôs de última geração produzidos especialmente para a viagem, dotados de inteligência artificial e características físicas muito semelhantes as dos humanos. Era difícil não sentir um calafrio na espinha ao ficar frente a frente com uma dessas máquinas. Eram capazes de levantar centenas de quilos, caminhar pelo exterior da nave sem nenhum tipo de proteção, se comunicar perfeitamente em vários idiomas além de parecerem dotados de emoções...

Esses robôs, apesar do medo gutural que instigavam, seriam essenciais para o sucesso da missão. Só eles poderiam fazer a manutenção das turbinas nucleares e outros reparos externos necessários devido as constantes colisões com asteroides. Além disso, lá fora, estaríamos expostos aos raios cósmicos e ventos solares que matariam um ser humano em questão de minutos.

Também pretendíamos utilizá-los nas missões exploratórias em Europa, tanto em sua superfície quanto em seu misterioso oceano interior.

Europa sempre foi uma das luas de Saturno que mais instigou a curiosidade da comunidade científica. Sua superfície coberta de gelo, garantiria toda a água que necessitaríamos em Nova Terra (como os passageiros das naves já começavam a se referir ao astro). As enormes máquinas de tratamento hídrico seriam montadas assim que desembarcássemos.

Quando a missão Veritas descobriu a existência de vida na lua há 10 anos atrás, sabíamos que colonizar Europa seria nossa única chance de sobrevivência.

As vezes é difícil acreditar que o mundo acabou. Aquela enorme erupção no planalto central brasileiro, cobriu os céus de fuligem há quase uma década. Sem o sol, as plantas morreram aos poucos. Sem as plantas...

Por mais de 100 mil anos, o homem explorou os recursos naturais da terra de forma irresponsável e desenfreada. Pagamos um alto preço por isso.

Minhas pesquisas descobriram o processo de fissão nuclear que permitiu o desenvolvimento dos motores que nos levariam a Europa e gerariam toda a energia que precisaríamos em nosso novo lar.

Me trouxeram por isso.

Vim nessa viagem contra minha vontade. Não queria tê-la deixado para trás. Tinha me preparado para morrer com ela, em nosso refúgio nas praias do litoral norte. Mais alguns anos da grande noite e estaríamos todos em paz.

Mas fui dopado e sequestrado pelo exército. Eu era necessário para operar, construir e ensinar a tecnologia de fissão nuclear (Só eu e a Dra.Wilkins à dominávamos totalmente).

Um dos meus maiores sonhos de criança era viajar pelo espaço, mas isso não me importava, não tinha sentido sobreviver sem ela. Implorei por sua vida mas de nada adiantou. Ela não era necessária. Apesar de brilhante em seu campo de atuação, não tinha nem a idade, nem a profissão ideal. Era descartável.

Sabedora de que nunca partiria sem ela, minha linda companheira, uma das mulheres mais inteligentes e corajosas que já conheci, fez um último sacrifício. O mais nobre que alguém pode fazer por amor.

Três meses antes da data programada para a decolagem das arcas, nos preparou um delicioso jantar (não sei onde conseguiu aquele salmão, visto que os peixes estavam quase extintos há anos) à luz de velas. Após a refeição, fizemos amor nas águas de nossa praia particular. Ela me disse que me amava e eu lhe disse que nunca iria abandoná-la. Dormimos abraçados na areia.

Quando acordei pela manhã, ela ainda estava em meus braços. Mas senti que algo não estava normal. Ela estava fria... Tentei acordá-la, ela não se mexia. Medi seu pulso... E não havia pulso....

Naquele momento vejo vultos vindo em minha direção e sinto uma picada em meu pescoço. Perco os sentidos em segundos e, quando acordo, já estou dentro da nave. Comandos das forças especiais, que nunca tinham deixado de me vigiar, me raptaram, antes que eu reagisse. Depois fiquei sabendo o que tinha acontecido. Ela havia se suicidado para que eu pudesse seguir viagem.

Deixou para trás somente um bilhete... Simples, direto e singelo, como tudo em sua vida.

"Estarei sempre com você..."

Foram suas últimas palavras...





domingo, 4 de agosto de 2013

Os paradoxos de Zenão - Do aniversário, a pedra passando pela flecha e a escalada

Zenão, foi um filósofo grego nascido na região onde hoje está a cidade de Vélia, na Itália. Este grande pensador, tinha um método de trabalho bem peculiar que consistia em mostrar o quão absurdas eram as hipóteses de outros filósofos, através de paradoxos.

Como funcionava isso?

Primeiramente, um paradoxo é uma declaração que aparenta ser verdadeira, mas que leva a uma contradição lógica.

Os paradoxos sempre me atraíram por serem desafios impossíveis de serem resolvidos. Paradoxalmente, como acontece sempre que me aparece algo desse tipo, fico quebrando a cabeça tentando resolvê-los.

Existem paradoxos de vários tipos. Alguns são chamados de paradoxos lógicos. Abaixo cito exemplos que desafiam o bom senso:

A frase "Eu sou mentiroso" é um clássico. Afinal, se estou falando a verdade e sou um mentiroso, estou mentindo. Hein? E se eu estiver mentindo? Será que menti ao dizer que sou mentiroso e, consequentemente, falo a verdade? Que???

Outro exemplo interessante é o Paradoxo do Grand Hotel: Se você tiver um hotel com um número infinito de quartos, e esses estiverem todos ocupados, ele ainda poderá receber mais hóspedes (cri cri cri).

Esse é um dos meus preferidos, o paradoxo do aniversário: Em uma sala com 23 pessoas, a chance de que pelo menos duas tenham a mesma data de aniversário é sempre maior d que 50%. Surpreso? Faça o teste... (eu já testei, óbvio).

Outros paradoxos são considerados metafísicos, isto é, se aventuram por assuntos que não podem ser explicados pela ciência.

O famoso paradoxo da pedra é um exemplo: Se Deus é onipotente e pode criar e levantar qualquer pedra, será que ele pode criar uma pedra que não consiga levantar?

Um outro muito bom é o de Epicuro, que prega que a existência do mal é incompatível com a existência de um Deus bondoso e ao mesmo tempo onipotente.

Poderia citar outros inúmeros exemplos, mas, vamos voltar a falar de Zenão, nosso amigo grego.

Como disse, Zenão era um mestre na arte de desacreditar outros sábios utilizando paradoxos. Um dos mais famosos que ele criou, é o de Aquiles e a tartaruga:

Imagine uma corrida de 10 Km entre esses dois personagens: Aquiles, um grande herói e atleta grego e uma tartaruga. Como Aquiles é bem mais veloz que a tartaruga, ele concorda em deixar ela sair na frente.

O paradoxo prega que Aquiles, não importa o quanto corra, nunca ultrapassará a tartaruga. Pode fazer o que quiser, bufar, espernear, xingar e sempre estará atrás do coitado do bichinho.

Mas como assim? 

Imagine que a tartaruga, quando Aquiles partiu, esta em uma posição A. Quando ele chegar a posição A, a tartaruga, estará mais a frente, na posição B. Quando ele chegar no ponto B, a tartaruga não estará mais lá, pois avançou para a posição C, e assim sucessivamente até o infinito.

Estranho não? Para explicar as contradições deste paradoxo, que leva em conta o conceito de tempo, eu teria que apelar para a mecânica quântica. E Zenão escreveu sobre isso na Grécia antiga...

Outro de seus paradoxos mais interessantes, é o da escalada.

Imagine que um alpinista esteja escalando uma parede rochosa. No primeiro minuto, ele escala metade da parede. Imagine que, a cada minuto, devido ao cansaço, nosso amigo só consiga escalar metade da distância percorrida no minuto anterior. No segundo minuto, ele sobe metade da metade da parede, no terceiro, escala 1/8 da rocha no quarto, 1/16 e assim sucessivamente até o infinito.

O resultado? Ele nunca conseguirá chegar ao cume... Certo?

Outra maldade de Zenão com seus contemporâneos foi criar o paradoxo da flecha voadora, de uma sutileza ímpar:

Ele afirma que uma flecha disparada, enquanto voa em direção ao seu alvo, está, na verdade, imóvel pois se não for assim, ela ocuparia várias posições ao mesmo tempo, o que é virtualmente impossível.

O tempo é feito com uma somatória de instantes, dias, horas, minutos, segundos... Imagine a menor período de tempo que existe. Em cada um destes instantes, peguemos como exemplo o instante X, a flecha esta "parada" em um determinado ponto de sua trajetória. No instante Y, estará parada também em algum outro ponto de sua trajetória e assim sucessivamente. Se a flecha esta parada em todos os momentos então ela esta sempre parada. Certo?

Dizendo de outra maneira, uma flecha não pode se mover através do ar pois a cada instante ela está em repouso em um ponto definido do espaço. No instante seguinte (não importa se um segundo ou um milésimo de segundo depois) ela também estará em repouso e assim sucessivamente. Ou seja, estará em repouso sempre.

Zenão também se divertia sacaneando seus pares com o paradoxo dos grãos de areia.

Ele partia do pressuposto que um grão de areia não pode ser considerado um monte de areia, certo? 

Bem, considere a seguinte situação: um milhão de grãos de areia constituem um monte, correto? Se você não concordar, considere dois, ou três milhões, ou o que lhe vier na telha.

Agora, imagine que você tire um grão desse seu monte de areia. Ele continua sendo um monte, não é? E se tirar mais um, ainda assim é um monte, certo? Repita essa operação por várias e várias vezes e chegaremos ao ponto em que haverá apenas um grão de areia, que será considerado um monte sem poder ser considerado um monte. Enfim...

Apesar de parecerem meros passatempos da revista Super Interessante, a verdade é que estudando os paradoxos, o homem exercita sua capacidade lógica e põe a prova seu intelecto.

Os paradoxos podem não ter lá tanta utilidade no dia a dia mas são, no mínimo, boas e curiosas histórias para contar aos amigos.

E quando for escalar, correr ou construir um castelo de areia, não se esqueça de dar uma risada, ao se lembrar dos paradoxos de Zenão.

sábado, 3 de agosto de 2013

O que você faria se fosse Deus?



Imagine que Deus resolvesse tirar umas férias de alguns séculos, afinal ninguém, nem Ele, é de ferro. 

Para não deixar o universo as favas seriam feitas eleições para decidir quem assumiria como Deus in absentia. A única exigência é que, os interessados, deveriam enviar, por escrito, sua plataforma de governo. 

Se você fosse um dos postulantes ao cargo, o que faria se eleito?  

Agiria como a Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo que usava o “faz de conta” para plantar melancias em árvores, parar as pulgas no meio de seus pulos e acabar com a morte das galinhas?

Ou como Zeus, jogaria raios na cabeça de quem te torrasse a paciência?

Bom... Vocês eu não sei, mas... Veja o que eu faria:

Primeiramente, mudaria as leis da física. Acabaria com esse negócio de não se poder viajar mais rápido do que a luz. O universo é gigantesco, cheio de estrelas, buracos negros, asteroides, planetas habitados e tal e cousa e lousa e maripousa e é até um pecado (até porque Eu decidiria o que é pecado!) não podermos explorá-lo!

Também diminuiria um pouco a gravidade terrestre e daria asas aos seres humanos. Assim, poderíamos voar por aí... Além de receber uma medalha do greenpeace, aposentando de vez automóveis, metrôs e ônibus, ninguém precisaria mais sofrer e se estressar em engarrafamentos da marginal, rodoviárias e aeroportos mequetrefes.

Provavelmente faria com que vivêssemos cerca de 300 anos. Para não criar um problema, diminuiria a taxa de natalidade humana, de forma que a terra não ficasse abarrotada de tiozinhos bicentenários.

Mandaria uns pecadores (definidos por mim, óbvio) para o inferno. Seria o fim dos políticos, empresários picaretas, do Lewandowsky e presidentes da Coréia do Norte. O José Dirceu, eu só mandaria de volta para Cuba.

Comida nunca mais iria engordar. Chega de dieta, academia e papinho de healthy-freaks. Todos poderiam comer de tudo e se manter esbeltos e saudáveis, sem frescuras.

Criaria mais três dias na semana (Para isso, mudaria a história da criação do mundo. Imaginem: "E Deus criou o mundo em 6 dias e, nos quatro seguintes, foi para a praia"). Assim todos os fins de semana seriam feriados prolongados. Afinal, trabalhar é muito chato, vamos combinar.

Como um Deus Palmeirense (não queria me gabar, mas torço para o Palestra) prometo não ser imparcial com o Corinthians... Se eleito faria com que eles ganhassem a segunda divisão todo ano.

Durante minha regência, todos iam nascer sabendo. Acabaria com esse negócio de ir à escola. Adeus provas, lição de casa, aula às sete horas da manhã, meu Eu!! Faria com que todo mundo passasse a infância e adolescência brincando e fazendo esporte.

Atendendo a muitos pedidos, faria com que as mulheres conseguissem se expressar de uma forma que os homens as entendessem e vice-versa. Parafraseando Neil Armstrong, um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade.

Nosso cérebro funcionaria de forma mais simples. Ao invés de anos e anos de terapia para aprender como andar para o lado ou dar um pulo, teríamos um painel na cabeça, apinhada de botões e alavancas que controlariam nossas ações e sentimentos.

Quer sentir alegria? Aperte o botão verde. Quer ficar calmo? Puxe a alavanca do meio. Brigou com a namorada? Pressione aquele grande botão vermelho escrito perigo... E assim por diante.

Definitivamente exterminaria o horário eleitoral gratuito e a voz do Brasil (Ninguém merece) substituindo-os, respectivamente, por séries inéditas da HBO e rádios de rock. Também mandaria o sertanejo universitário para o raio que o parta. Literalmente.

Durante meu reinado, os animais de estimação poderiam falar. Vai dizer que sou só eu que quero saber por que os cachorros correm atrás do rabo ou os gatos só vem perto da gente quando estão com fome?

As disputas entre povos não seriam mais resolvidas através de guerras. Em seu lugar, organizaria torneios de videogame. Os Brasileiros não aguentam mais os argentinos? 

Que desafiem os caras para um embate de Winning Eleven e está tudo certo.

Outra medida importantíssima é fazer com que todos, repito, TODOS os atendentes de call center servissem para alguma coisa e resolvessem de verdade nossos problemas. Em um minuto, é claro.

Para terminar, faria com que todos parassem de olhar para cima pedindo por um milagre para resolver seus perrengues. Com isso, quem sabe as pessoas assumissem mais seus erros e os encarassem de frente, ao invés de sair pela tangente e jogar a responsabilidade para o alto.

Afinal, a vida não é um mar de rosas, mas, se tomarmos um tombo, devemos nos levantar o mais rápido possível e tentar de novo. E sem apontar dedos!

Nosso destino só Deus conhece, mas cabe a cada um de nós, e a mais ninguém, traçá-lo.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

September 11, o dia que mudou o mundo

Em Setembro de 2001 eu morava em Nova York e vi, de perto, o drama que o mundo assistiu atônito de suas TVs e pela Internet, dois aviões sequestrados por terroristas da Al Quaeda se espatifando contra o World Trade Center, no maior ataque aos EUA, em seu próprio território, depois de Pearl Harbor.

Especificamente,  partilharei a história de terror e tristeza que nós, habitantes daquela fantástica cidade, vivenciamos naquele fatídico 11 de Setembro.

Comecemos do começo.

Desde que me formei em administração tinha um sonho de cursar um MBA no exterior. Para mim, seria não só uma forma de avançar profissionalmente mas também uma oportunidade de viver e trabalhar fora.

Depois de algum tempo de formado (recomendo a quem quiser seguir o mesmo caminho, não pensar em MBA antes de ter uma experiência profissional razoável), comecei a dedicar todo meu tempo livre e férias para isso.

O processo de seleção é muito duro e exige muito. Afinal, você está concorrendo com algumas das melhores mentes do planeta.

Me lembro bem que, no começo, minhas notas do GMAT (teste de lógica matemática e interpretação de texto que pede uma nota muito alta, se você estiver mirando as faculdades tops) eram muito ruins. Até minha família achava que tudo não passava de mais uma de minhas ideias loucas. Pensei em desistir.

Mas tenho alguma coisa com desafios "impossíveis". Eles mexem comigo em vários níveis, me dando o gás necessário para encará-los de frente.

Montei uma rotina dura, de três a quatro horas diárias de estudo (e vocês não sabem o quanto é difícil, para um geminiano canhoto, fazer algo de forma organizada).

Fazia simulados diários do GMAT e escrevia os essays (dissertações sobre sua vida e o que você espera do MBA que contam muito no processo de seleção).

Um mês antes da prova, tirei férias para estudar cerca de oito horas por dia (tirando sábados, em que saia para me divertir pois ninguém é de ferro, muito menos eu). Meus amigos achavam  que eu tinha sido sequestrado.

Resumindo a história, depois de muito esforço, fui muito bem nas provas e aceito por algumas faculdades que queria, dentre elas, Columbia.

A Universidade de Columbia tem seu campus no Upper Westside em Nova York, muito perto do Riverside Park (onde cansei de jogar bola com meus amigos argentinos e uruguaios) as margens do Rio Hudson.

Seu curso de MBA conta com alguns dos melhores professores do mundo, inclusive 3 prêmios Nobel.

Além disso ela fica em Nova York, cidade que fala por si só. A experiência de viver lá por 5 anos  é algo difícil de explicar. É uma cidade que tem de tudo, gente de todo o planeta, teatros, restaurantes, a vanguarda da moda, arranha-céus, o Central Park no meio de uma selva de cimento, museus únicos mundo, além de ter um estilo de vida e valores muito parecidos com o do paulistano.
 
Quando visitei a faculdade, um pouco antes de me mudar definitivamente, fique impressionado e extasiado com a cidade. Quando desci do avião lembro que pensei: "eu quero viver aqui e ser parte disso".

Foi minha maior vitória pessoal. Depois de meses estudando como um camelo, tinha conseguido. Eu não sabia que, pouco depois desse momento de extrema alegria, viriam meses de extrema tensão e horror.

O curso começaria em agosto de 2001. Nos mudamos, eu e minha ex-mulher, para Nova York em maio. Haviamos parado nossa carreira por dois anos para nos dedicar a essa experiência que, sabíamos, renderia frutos mais a frente.

Nos matriculamos em um curso de inglês (Que era sofrível naquela época. O meu, particularmente, foi ficar bom alguns anos depois. Minha ex-esposa tinha mais facilidade para idiomas e, em muito pouco tempo, estava fluente enquanto eu continuava com meu inglês de Neanderthal).

Nessa época, nos dedicamos a montar nosso apartamento (comprando móveis, utensílios domésticos, panelas e todos os penduricalhos necessários para se ter uma moradia aconchegante), a conhecer a cidade, seus pontos turísticos, atrações, peças teatrais e Columbia.

Vivíamos ao lado da faculdade, na mesma rua do Tom's Restaurant (quem já assistiu Seinfield, sabe do que estou falando), era verão em NY, estávamos maravilhados com a cidade e com o fato de termos nossa própria casa. O céu parecia ser o limite.

As aulas começaram, fizemos, de cara, grande amizade com um casal de argentinos que me ajudaram a melhorar minha fluência em espanhol (obrigado pela paciência, Pablo e Lujan). Em uma ocasião engraçada, foram filmar The Spider-Man 1 lá em Columbia. Em uma das cenas em que Peter Parker fala com seu amigo, apareço ao fundo, no campo de futebol de Columbia, com uma camisa do Palmeiras (vai verdão).

A vida ia muito bem, obrigado. Mal sabia o que me esperava um mês depois do início das aulas.

Sempre tive dificuldade para acordar cedo, ponto. Minhas aulas começavam as 7h30 da manhã e era um parto chegar na primeira aula, ainda mais de contabilidade. Normalmente eu ficava meio acordado meio dormindo na sala.

No dia 11 de setembro de 2001, acordei as 6h30, tomei meu banho, me arrumei para ir para a faculdade, descemos eu e minha ex-esposa para comer um bagel (uma delícia!) e ir para nossos compromissos. Nesta época ela fazia um curso de inglês em dowtown, há 4 quadras do WTC.

Fui para minha aula. Chegando lá, o professor começou a ensinar como usar uma calculadora financeira. Não tive dúvida, sentei na última fileira, coloquei o laptop na frente da cara e comecei a dormir.

De repente, do nada acordo e vejo todo mundo da sala,  incluindo o professor, conversando uns com os outros em voz alta. Tinham um ar assustado e sério. Eu não estava entendendo nada, meu inglês ainda era sofrível. Perguntei ao Pablo, que também pescava ao meu lado, o que tinha acontecido. Ele me disse que  alguma coisa estranha tinha ocorrido no WTC.

No primeiro momento, pensei, coisa de americano, deve ter estourado algum cano ou deve ser uma passeata, sei lá.

Alguns minutos depois, todo mundo começa a sair da sala. Saio também. De fora, vejo dezenas de alunos, professores e membros do faculty se aglomerando na frente dos quatro televisores que existiam no hall.

Fui ver o que acontecia. A TV mostrava imagens de uma fumaça preta saindo do WTC. Pensei, deve ser um incêndio. Perguntei a uma amiga americana, de quem era mais próximo, o que tinha acontecido. Ela me disse que ninguém tinha detalhes ainda, mas parecia que um avião havia se chocado com o prédio.

Lembro que pensei "nossa, que coisa louca, será que o avião se desgovernou?". Ainda não tínhamos a dimensão do que se passava, mas aos poucos todos foram se tocando que, independente da razão, muita gente tinha morrido e o prédio deveria estar um caos.

Meia hora depois, a bomba. Um outro avião se choca, desta vez filmado pelos cinegrafistas que estavam cobrindo o primeiro "incidente", com a outra torre do WTC.

Não havia mais dúvida. Era um ataque deliberado. O terror tomou conta. Eu estava em uma faculdade de administração. O prédio era um dos maiores centros de business dos Estados Unidos, todo mundo conhecia alguém que estava por lá.

Minha ex-esposa estudava inglês, como já falei, ao lado do WTC. De repente um medo subiu pela minha espinha. Relatos de pessoas se jogando da janela para escapar do fogo que consumia o prédio, de gente presa nos andares de cima de onde os aviões tinham batido, de pedaços do prédio caindo nas pessoas, começaram a chegar.

Os celulares não funcionavam mais. Não havia como falar com ela. Comecei a me desesperar. Fui para casa, todo mundo do Brasil, fiquei sabendo depois, tentava nos ligar e não conseguia.

Eu rezava e pedia a Deus pela segurança de minha mulher. O pânico havia tomado conta. Pensei em ir a pé para downtown buscá-la (os ônibus e metrôs haviam sido desativados) mas a polícia falava na TV para ninguém sair de casa, não sabia exatamente o que estava acontecendo mas era certo que boa coisa não era.

Uma hora depois, o horror chega ao seu máximo. A primeira torre desaba, e a TV mostra imagens fortes e passa informações terríveis. Já sabíamos que, quem estava ali dentro, incluindo centenas de bombeiros e policiais que, heroicamente, entraram no prédio para tentar socorrer quem tentava sair pelas escadas em chamas, haviam morrido.

A fuligem e o fogo tomavam conta de downtown. Uma das torres do que era um orgulho e um dos símbolos da grandeza dos EUA tinha caído, com milhares de pessoas dentro.

E eu continuava sem nenhuma notícia de minha esposa. Lembro de como me sentia impotente. Nunca havia visto um ataque terrorista (nesse momento, com os relatos do ataque ao pentágono e do outro avião que tinha caído perto de Philly, já se tinha essa confirmação) e não sabia o que fazer nem pensar, sozinho, sem comunicação, do outro lado do mundo. Eu só pedia a Deus que a protegesse.

A situação piora. Pela TV, assisto uma cena terrível. A outra torre, que tinha se segurado por quase uma hora depois de ser atingida, desaba também, levando consigo mais milhares de vidas.

O quadro era caótico, parecia uma cena de guerra. Pela janela, mesmo do outro lado da cidade, eu podia ver uma fumaça preta que tomava os céus de Nova York. Parecia o final dos tempos.

As pessoas se aglomeravam nas ruas, alguns choravam, outros tentavam, desesperadamente ligar para seus familiares e conhecidos que trabalhavam no WTC.

Nesse momento eu já sabia que os telefones públicos, conectados a rede por cabos subterrâneos, eram a única forma de comunicação que existia com o mundo. Tentei  me acalmar. De nada ajudaria deixar o desespero tomar conta.

A esposa de um amigo (que estava grávida) cursava a mesma escola de Inglês de minha mulher. Fui até a casa dele saber se havia tido notícias. Ele estava na mesma. Resolvemos enfrentar uma das filas quilométricas que haviam se formado nos telefones públicos para tentar contactá-las em seus celulares, além de ligar para o Brasil. Sabíamos que todos por lá deveriam estar desesperados.

Depois de uma hora, conseguimos usar o orelhão. Liguei para meus pais, conversei rapidamente com eles e tentei ligar para as duas. Em vão, nenhum celular funcionava na cidade.

Nessa hora, passa tudo pela cabeça, você revê toda a sua vida, pensa no que poderia ter feito, que deveria estar lá, que eu a trouxe para os EUA e não me perdoaria se algo de ruim acontecesse... Mas tentei afastar esses pensamentos e manter o foco. Enfiei na cabeça que a veria de novo sã e salva.

Foram horas e horas de angústia mas, de repente, o telefone de casa toca (nesse momento os telefones fixos já tinham voltado a funcionar). Eram elas...

Um sentimento de alegria imensa percorreu meu corpo. Quando a ouvi falar, só lembro de perguntar se estavam bem e pedir que viessem para casa o mais rápido possível.

Elas tinham caminhado de downtown até mais ou menos onde morávamos e entraram na fila de um orelhão, para nos dizerem que estava tudo bem.

Ao chegar em casa, mais detalhes da tragédia e a certeza de que Deus as protegera.

Elas sairam do metrô, mais ou menos as 8h30, um pouco antes de desligarem todas as linhas (por pouco não ficaram presas nos vagões, como muitos ficaram) e a primeira torre tinha acabado de ser atingida.

A saída do metro era literalmente ao lado do WTC. Quando elas deixaram a estação, viram o fogo tomando conta, pessoas desesperadas tentando sair e bombeiros tentando entrar. No alto do prédio, observam dezenas de objetos saindo pelas janelas. Olhando mais detalhadamente, viram que os "pontinhos pretos" usavam gravatas e perceberam, horrorizadas, que eram pessoas se jogando, preferindo o suicídio à morrerem queimadas.

Graças a Deus, sem pensar duas vezes, elas decidem se afastar das torres o mais rápido possível. Foi isso que as salvou...

Quinze minutos depois que começaram a andar em direção a midtown, elas notam, assustadas, um avião, voando perigosamente baixo, passar por cima de suas cabeças. Quando olham para trás, testemunham uma cena que ficará para sempre marcada em suas memórias: O segundo avião batendo de frente com a outra torre do WTC.

Nessa hora em que muitas pessoas ficariam paralisadas, munidas de um senso inato de sobrevivência, começaram a andar ainda mais rápido.

Depois soubemos que toda a região onde elas estavam, foi tomada por fuligem e pedaços do prédio quando as torres desabaram. Muitas pessoas que ficaram ali assistindo as torres queimarem, morreram.

Após o final da minha tragédia pessoal, consegui me concentrar no que estava acontecendo.

Nessas horas, o Nova Yorquino mostrou uma faceta que poucos conhecem. Em situações de perigo extremo, todas as diferenças são postas de lado, todos se unem e se ajudam. O rico dá abrigo ao pobre e as casas oferecem água e comida aos exaustos.

Em pouco tempo, mutirões comunitários se formam. Naquela cenário terrível, vi algumas das cenas mais emocionantes que já presenciei. Era como se a cidade dissesse em uníssono, "não vamos nos curvar".

No dia seguinte, na faculdade, a tristeza estampada nas faces dos meus amigos dizia tudo. Vários estavam sem notícias de parentes, de conhecidos e esperavam por um milagre, que não veio para muitos.

Após alguns dias, o saldo da tragédia, mais de três mil mortos, incluindo mulheres, crianças, idosos, executivos, pretos, brancos, garçonetes, banqueiros, judeus, muçulmanos, além de centenas de bombeiros e policiais.

O prefeito Bloomberg que conduziu toda a situação de uma forma excepcional (que pena não termos políticos que cheguem perto de sua sombra), chefiava pessoalmente a busca por sobreviventes. Por quase uma semana, os bombeiros encontraram pessoas vivas em baixo dos escombros.  Por mais de um mês, retiraram corpos, alguns irreconhecíveis, esmagados, do que restou das torres. Outros, nunca foram encontrados.

Por quase seis meses, aquela região ficou fechada. Uma fumaça preta e um cheiro de carne queimada terrível impregnavam o ar e chegavam até nós, do outro lado da cidade.

A vida mudou do dia para a noite. As bolsas despencaram, os voos comerciais foram proibidos, caças F-18 sobrevoavam a cidade, o NY Times publica um caderno especial, em que listou e contou a história de todas as pessoas que haviam morrido. Não consegui segurar as lágrimas ao ler aquilo. Pais de família, meninos no começo de carreiras promissoras, bombeiros que se jogaram naquele inferno tentando salvar vidas...

Quatro alunos do MBA tinham morrido. Um da minha sala.

Os EUA inteiro se unem em solidariedade à "cidade que nunca dorme". Toneladas de comida, cobertores e outros víveres em geral, chegavam de todos os cantos.

A imprensa só tinha espaço para as repercussões do ataque. Algumas semanas depois, temos a notícia que haviam encontrado correspondências com Anthrax dentro. Mais mortos, mais pânico. Alguns dos meus amigos vedam suas portas e janelas e compram máscaras de proteção.

Pensei em desistir e voltar para o Brasil. Afinal, não era só minha vida em jogo. Minha ex-mulher, me diz que tínhamos que ficar,  que havíamos lutado tanto para estar ali e que não podíamos desistir, em uma atitude corajosa, que jamais me esquecerei.

Aquele dia, certamente um dos piores de minha vida, mudou o mundo de diversas formas. A pujante economia americana entrou em recessão. Extremistas de direita encontraram a desculpa que precisavam para empurrar sua agenda política, a segurança nos aeroportos nunca mais seria a mesma, os Estados Unidos fizeram duas guerras e precisaram de dez anos para finalmente livrar o mundo de Osama Bin Laden e eu vi, pela primeira vez, o quanto a vida é valiosa e, ao mesmo tempo, frágil.

Dedico este texto à todos os que pereceram naquela trágica manhã de 11 de Setembro de 2001.