sábado, 28 de dezembro de 2013

Manifesto anarquista: Por uma primavera tupiniquim

Mais um ano se encerra. Um ano turbulento em que vimos nosso governo flertar de maneira irresponsável com a inflação, bichinho bizarro que, durante duas décadas, foi o pior inimigo do país, destruindo, destroçando o poder de compra do trabalhador e fazendo a fortuna dos banqueiros que, através do overnight, criavam dinheiro por geração espontânea.

Também foi um ano em que tivemos uma das maiores mostras que a sociedade Brasileira mudou e que não aceitaremos mais, de forma passiva, os mandos e desmandos de uma classe dominante alijada dos interesses dos cidadãos brasileiros, detentores do poder real e que sustentam o estado. Manifestações diversas varreram o país, de sol a sol, do Arroio ao Chuí, a maioria pedindo um basta na forma corrupta e suja que esse país funciona.

Ninguém aguenta mais trabalhar 6 meses por ano para pagar impostos que somem e não são utilizados para nada que importa, leia-se direitos básicos de qualquer ser humano na terra, como acesso a saneamento básico, água potável, educação, saúde e um lugar para morar.

Quem reclamaria de pagar os impostos pornográficos que pagamos, se soubéssemos que este dinheiro seria destinado ao progresso do Brasil? Todos ganharíamos com um país mais culto, desenvolvido e justo.

Mas o fato é que, desde a colonização, este país é composto de feudos, capitanias hereditárias, rincões dominados por elites que não conhecem o básico de Machiavel, sem um povo minimamente satisfeito, a tendência é termos uma onda de revoltas populares que terminarão, indubitavelmente, com a "morte" e substituição dessas elites.

Muitos políticos "cegos" pelo imediatismo não conseguem enxergar essa mudança, esse novo Brasil que mostrou sua cara nas passeatas de julho. Muitos deles, dado o fato que, há alguns meses temos um clima relativamente pacífico, pensam que, como no passado, tudo não passou de um breve sonho de uma noite verão.

Ledo engano. Basta um mínimo de inteligência para perceber que esse país mudou, deu um salto. Não que tenhamos obtido vitórias e mudanças assombrosas na forma como esse país é gerido mas, o fato é que, o povo não aceitará passivamente desmandos e impropérios.

Me parece muito claro que, se o país continuar neste rumo incerto, egoísta e alijado da vontade de seu povo, "nossas" elites arriscam criar uma primavera tupiniquim, com revoltas populares cada vez maiores e cada vez mais violentas.

Foi assim em Roma, foi assim no Egito, foi assim na Europa, foi assim na Rússia, foi assim na China. Sempre que a corda foi esticada acima de um certo limite, tivemos algo maior que passeatas, maior que faixas estendidas pela rua... Como a história mostra, vimos a erupção de sangrentas e violentas revoluções. O poder é do povo e não dos governantes que, no fundo, não passam de representantes deste povo. Se não os "representarem" de maneira digna, serão substituídos, legalmente ou a força.

Por muitas décadas nossos políticos e demais membros da elite se acostumaram com o mito do bom selvagem, definido por Jean Jacques Rosseau como cidadãos passivos que, em troca de pão, espelhos e circo, aceitariam sem reclamar, mandos, desmandos e tal e cousa e lousa e maripousa.

Afinal, somos para eles, um bando de analfabetos, iletrados, perdidos buscando o sustento de cada dia. Quem vive na pobreza não tem tempo de protestar, pensam eles de forma pejorativa, errada e perigosa.

O Brasil mudou. 

Só não vê quem não tem olhos ou não quer ver.

O país vive um estado turbulento como nunca vivemos na história. Somos hoje um barril de pólvora esperando a faísca que começara uma sequência de explosões sem volta.

O momento atual se assemelha ao que passava a França pré revolucionária em que muitos tinham tudo, poucos tinham nada e o povo era achincalhado diariamente por governantes distantes e alheios as necessidades do povo. Todos terminaram, literalmente, sem cabeças.

É condição sine qua non, para a sobrevivência deste país como nação soberana e unida, que surjam lideranças com a visão de futuro e entendimento do presente que levem em conta essa situação limítrofe e perigosa. Não é isso que temos em nenhum dos dois partidos dominantes na esfera política nacional.

Se nada mudar, se nosso governo, em todas as esferas do poder, continuar como um circo mambembe de cartas marcadas, completamente distante da realidade de seus cidadãos, despejando arrogância e prepotência, é questão de tempo para que o Brasil servil mostre sua verdadeira cara.

Se eu fosse um político, estaria neste momento ou estudando como fazer um trabalho sério ou de malas prontas para Paris.

O ano que começa será a solidificação de um processo sem volta, da transferência do poder, ou grande parte dele, de volta para a população. Isso acontecerá de forma pacífica ou a fórceps.

Cabe a quem de direito escolher.

Um feliz 2014 à todos.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mensagem de final de ano

Amigos ,

Mais um ano se passou. Aliás, como a vida passa depressa...

Concentrados no dia a dia, em resolver nossos problemas, em prover o pão de cada dia para nossas famílias, às vezes esquecemo-nos de apreciar detalhes e nuances da vida.

São pequenas coisas que não voltam mais.

São as pessoas que convivemos, passam, vão, estão conosco, nossos amigos, nossa família.

Quantos de nós, por falta de tempo ou por compromissos, deixamos de comparecer a reuniões familiares, de dar um abraço em nossos pais, enquanto temos chance de aproveitar o tempo que ainda temos com eles?

Quantos de nós, pelos mesmos motivos, vivemos para o trabalho sem nos tocarmos que o trabalho é um meio e não um fim?

Quantas vezes nos permitimos ter um fim de semana na praia com a família, um jantar a luz de velas com nossas esposas, namoradas e filhos ou mesmo um tempo dedicado a nós mesmos, as coisas que gostamos e que nos fazem especiais?

A vida não espera, ela bate, machuca, dói... Mas também afaga, nos acolhe em seus braços e nos concede a graça sublime de experimentar o amor,  que justifica todos nossos perrengues.

Amor da família, amor de nossas mulheres, nossos filhos, nossos amigos...

Quanto tempo dedicamos as amizades? Estas pessoas especiais que, de sua maneira, nos acrescentam e nos ajudam a seguir na dura batalha da vida?  

Confesso que às vezes falho neste ponto. Apesar de ser extremamente emotivo e ter em meus amigos uma base sólida a qual recorro nos momentos de necessidade, preciso vê-los mais, procura-los mais, ajuda-los mais...

As idiossincrasias da vida nos separam. Mas mesmo assim, acredito que possamos estar distantes e perto ao mesmo tempo.

Na minha crença somos toda uma grande família humana composta por espíritos simpáticos que se procuram por aí.

Considero vocês um apêndice da minha família de sangue. Amigos com quem convivo há mais de 15 anos, que me viram crescer como homem, participaram e me ajudaram em momentos bons e ruins, me aceitaram, me apoiam, me suportam... 

Queria pedir à todos, neste final de (mais um) ano, que mantenhamos essa união pois esse é um dos motivos pelos quais estamos aqui, conviver e aprender com os amigos.

Tatá, eminente jurista, excelente advogado, detentor e conhecedor de cervejas que nunca ouvi falar, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Léo Barra, Palestrino cheio de idéias interessantes, uma pessoa que admiro e tenho carinho, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Martinelli, aquele que tem apelido de vagina, amigo de muito tempo, que me aproximei mais ainda este ano, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Senhor Genda, outro Palestrino como eu, rapaz inteligente, de observações espartanas e sagazes, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Murilo, baiano arretado, apaixonado pelo Bahea que também convivi mais este ano e vi a pessoa do bem que você é, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Senhor Seiro, grande pessoa, achubesp à tempos, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

André Zacari, vulgo “O Muricy é foda”, amigo e gente finíssima, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Senhor Frasca Scorvo, Peru para os amigos, que cada dia aprendo a gostar mais, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Augusto Guilherme, meu primeiro amigo na faculdade, quantas vezes nos divertimos e tomamos pauladas juntos, sem palavras para te descrever... um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Mitrovas, adora me encher o saco, joga bola pra caramba e é um dos caras mais gente fina que conheço, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Caio, outro que joga muita bola, conheço deeeesde que entrei no Mackenzie, uma cara de valores. Um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Carlucho, nosso homem da justiça, também conheci muito mais este ano e aprendi a gostar e respeitar, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Carlão Carbone, outro que o que dizer? Quantos momentos dividimos no passado e dividimos no hoje juntos? Além de um grande parceiro, marido de minha melhor amiga, tem uma família linda, um coração enorme e é diretamente responsável por nossa união eterna, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Davizinho, são paulino, gente fina, que me ensina e me motiva com pequenas palavras, pequenas frases a tentar ser um cara melhor, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Dieguinho, mais um que conheci e convivi bem mais neste ano, divertido e do bem, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Edenir, camisa 10... Temos nossas discussões, passamos réveillons juntos, dominávamos o azaléia, enfim, convivemos e vivemos, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

E o que falar do senhor Ponkan? Cozinheiro de marca maior, gente finíssima, que dedica seu tempo para que todos nós, quando nos encontramos, tenhamos do bom e do melhor, churrasco de restaurantes top, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Dioguinho, rapaz de garbo e elegância que também conheci mais a fundo neste ano que se encerra, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Cotrim, das antigas, sempre de bom humor, homem de Itu, boleiro que sempre viaja para lugares irados, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Jacob, véio Zuza, quantas aventuras nestes 15 anos, quantos perrengues, histórias compartilhamos? Conheceu (finalmente) alguém que o atura e vai se casar em breve, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Evandro, corinthiano que sabe das coisas, garoto do poker, parça do Ronaldo, com um coração enorme, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Senhor velho, outro que vem láááá de trás, parceiro, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Franhão, que hoje faz aniversário, outro São Paulino chato e um cara 10, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Ganso, nosso ecologista das construções sustentáveis. Neste ano, nos aproximamos muito, com você muito aprendi, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Gibão, cara legal, amigo e buona genti, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Xunior, esse é o xunior, o que dizer? Sempre ali, inteligente e rodeado de belas amigas, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Helinho, nosso amigo tricolor de coração, que encho tanto o saco (te curto pra caralho!), rei da bateria e que sempre lê meus textos e está sempre com a galera, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

João Vitor, outro que conheço desde a idade da pedra, um cara que me enche o saco mas tem um dos maiores corações que já conheci um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Polegar, aquele que me sacaneou da maneira mais inteligente que já vi, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Juliano, você é parça, sempre com um sorriso na cara, generoso com os amigos e hoje com uma família linda (nunca pensei que veria isso), um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Xuninho, outro parceiro que já conheço há anos e também esta sempre rodeado de belas amigas, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Maceió, rá... Amigo, parceiro, das antigas, de várias aventuras e desventuras, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Xari, uma das grandes amizades que fiz na vida, vai ficar pra sempre, tenho certeza, apesar do broquinator, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Marko Mello, o São Paulino mais chato que conheço, artista, do bem, da periferia e que duvida da existência do Telê, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Marco Tullyo, amigo, dono de uma sensibilidade única, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Maurício, mão de pau, palestrino, gente fina e inteligente pra caramba, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Miranda, nosso representante da classe dos bikers, que sempre troco uma ideia profunda em todos os churrascos, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Padu e Beto (sei lá quem é quem rs), aqueles que não jogaram no Palmeiras porque não quiseram (sei lá qual dos dois), das antigaças, gente da mais alta estirpe, com quem também tenho conversas interessantíssimas sempre que os encontro, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Renato Stockbant (nunca soube escrever seu sobrenome), nosso representante do Likud, recém casado, lê muito, é muito inteligente e adoro conversar com ele, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Roliso, el chico a pampa com um apelido que nunca entendi de onde veio, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Samuca, que sempre confundo com o Sammy (sorry!), um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Sammy, outro que é da década de 70, gosta de um samba, uma feijoada, e tem um coração do tamanho da Irlanda, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Menk, que já conhecia de outros tempos mas também convivi mais e conversei mais, neste ano que passou, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Thiaguera, das antigas (ainda me lembro de você e do Jacó, bichos, chegando carecas naquele jurídico), esse é do bem, das motos e da praia, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Waltinho, palestra, parceiro, com uma família linda e super inteligente, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Boca, esse é outro que apesar de sumido, mora e morará sempre em meu coração, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Tibas, que neste ano teve a grande alegria de ser pai, que também conheço e me divirto com ele há anos, um excelente natal e ano novo para você e sua família.

Senhores desta grande família , é um prazer tê-los como amigos, aprender, curtir, me divertir, discutir e conviver com vocês.

Que esse laço que nos une nunca se quebre.

Vida longa!
Renato Recife

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Campo de libra - Sua privatização será boa para quem, cara pálida?

Após tomar um puxão de orelha, provavelmente de Lula que não tem nada de bobo, Dilma se rendeu aos fatos. Onde o estado mete as mãos as coisas não saem, saem mal feitas ou com rios e rios de dinheiro desviado.

O campo de libra precisará de imenso CAPEX em pesquisa, engenharia e tecnologia antes de começar a gerar receitas. Desconfio até que o OPEX disso, dado que tirar petróleo das profundezas do oceano é complicado, só permitira ganhos reais quando o preço do petróleo for lá pra cima (e invariavelmente irá, por ser um bem não renovável).

Para a petrobrás, que deterá uma participação no deal, pode ser uma boa. Aos que compraram Petro na época do FGTS, uma dica: NUNCA venda uma ação em baixa, a não ser que você precise do dinheiro em um caso de vida ou morte.

Espere quanto tempo for. Principalmente neste caso específico em que a Petrobrás, hoje, vale menos que seu book value.

Para terminar, até Lenin e Trotsky afrouxaram o sutiã quando confrontados com o mesmo problema, e resolveram como a Dilma.

Não seria ela que mudaria a forma de atuação dessa geração de socialistas fracassados.

Quando na parede, quando percebem sua própria incompetência em setores chave como energia, se curvam ao setor privado. Muitas vezes fazendo maus negócios, como fez Fernando Henrique e como fará a Dilma.

Lenin, o primeiro líder soviético, adotou variantes dessa modalidade (guardando as devidas proporções de tempo e situação) na então União Soviética para explorar as ricas jazidas de petróleo de Baku e de outras regiões. Sem capital, tecnologia e mão de obras especializada fez acordos com as corporações britânicas com base no sistema de partilha e de transferência de tecnologia.

Resumindo, tudo continua como dantes no Quartel de Abrantes.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Mulheres poderosas, homens perdidos


O mundo mudou.

Para quem viveu a época em que ser o melhor cara da rua no telejogo era motivo de discussão e até de tapas entre a criançada, (caso você seja da geração Y, Z, e não tenha a mínima ideia do que estou falando, telejogo foi o "videogame" mais rudimentar e tosco que já existiu), os jogos interativos de hoje com realidade virtual, controle wireless e tal e cousa e lousa e maripousa, parecem mágica Wicca.

E o que falar do velho CP-500 da prológica com 64k de memória RAM (para se ter uma ideia, hoje em dia qualquer chip de cartão de débito tem umas 1.000 vezes isso aí), computador do tamanho de uma máquina de lavar louça, que usava disquetes de plástico, monitor de fósforo verde com pixels do tamanho de um dedo e rodava programas em basic?

Lembro também dos velhos telefones de discar, que os pais normalmente trancavam com um cadeado, e, todo moleque, conseguia burlar e usar "clicando" no gancho o número que se queria chamar.
Sem mencionar que uma linha de telefone fixo, que hoje quase ninguém tem mais, custava tanto, mas tanto que era declarada no imposto de renda!

E o politicamente correto? Acho que essas duas palavras nunca foram utilizadas juntas na década de 80! Para se ter uma noção, os trapalhões, que eram a antítese do PC, formados por um cearense, um negro bebum, um Dedé, caricatura de homossexual, e um careca esquisito, foi o programa mais assistido da televisão brasileira por muito tempo.

Televisão essa que era um trambolho de tubo, que não pegava em canto algum, tinha quatro ou cinco canais e só passava filme dublado. Nesses tempos idos, ir ao cinema era quase como sair à noite. Só se podia ir de calça, blusa social e ainda tinha o lanterninha, que tinha como objetivo de vida, encher o saco de todo mundo.

Economicamente, vivíamos o auge da inflação "a la" Alemanha do entre guerras. Os bancos ganhavam rios de dinheiro com o overnight, os preços tinham que ser reajustados a uma velocidade que faria inveja ao Usaim Bolt e, todo dia 10, os supermercados estavam lotados, pois era o dia de receber salário que, no dia seguinte, não valia mais nada.

Coitada da nossa moeda, mudou mais de nome que o José Dirceu. Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro Real, Real... Enfim, era um samba do crioulo doido!

Não vou nem citar as carroças que chamávamos de automóveis... Se você não gosta do Uno Mille, do Ford Ka ou do Fiesta, é porque não teve que andar de Fiat 147 (Meu Deus, Pai! O que você fumou quando comprou aquela geringonça?) ou de Caravan amarela.

Mas outras coisas mais importantes também mudaram. Entre elas as liberdades individuais. Não vivemos mais em uma ditadura, onde os governadores e prefeitos das capitais eram indicados pela caserna. Temos uma democracia consolidada em que, cada um, faz o que quiser, respeitando os direitos básicos do outro.

A internet, além de aposentar as páginas amarelas e a enciclopédia Barsa, foi o estopim de uma revolução cultural e econômica jamais vista. Hoje, com um clique, se tem acesso a todos as informações e conhecimentos da espécie humana. Google sabe tudo, esta em todos os lugares e, no limite, faz o que quiser. Resumindo, Google é Deus.

Vou, entretanto, discursar sobre as relações entre homens e mulheres (insira aqui homem com homem, mulher com mulher, bichos, plantas leguminosas e qualquer outra prática moderna que lhe vier à cabeça).

A minha geração é composta de homens perdidos.

Nossos pais foram educados em um mundo diferente, em que as mulheres eram "preparadas" para serem donas de casa (a maior parte não se formou em uma faculdade) e os homens para serem provedores, os "chefes" de família...

Era um mundo tão duro quanto o atual, mas extremamente machista. Até um tempo atrás, matar uma mulher adúltera, era um atenuante na pena de um corno.

Apesar de tudo isso, era um mundo de regras mais claras. Cada um sabia seu papel, por mais que isso soe esquisito e, antes que você mulher, seja invadida pelo sagrado fogo da indignação e decida que mereço ser cozido vivo, não acho que eram valores corretos nem melhores. Só estou relatando fatos.

Naqueles dias, o homem deveria cortejar sua namorada (que tinha que casar virgem, afinal mulher de família deveria se preservar para o marido) e frequentar casas de "primas". Os casamentos aconteciam aos vinte anos de idade, a mulher tinha que fazer vista grossa para as "escapadas" do marido (a sociedade tinha mais medo de mulher divorciada que do capeta), todo mundo ia à missa de domingo e pedia "bênção" aos mais velhos.

Mas isso mudou assustadoramente rápido com a minha geração. Nós contestamos tudo, todos e mais um pouco. Como no Brasil, tudo demora um pouco mais para acontecer que no resto do mundo, a revolução sexual dos anos 60, chegou aqui na década de 80 e começo dos 90. Minha geração não queria casar cedo, começou a transar aos 16, não acreditava que se pegava AIDS com "mulheres de bem", brigava por qualquer coisa que não concordasse e acreditava que podia mudar o mundo.

E mudamos. Para melhor ou pior, depende dos valores de cada um mas, o século 21, difere tanto do anterior quanto o polo sul do deserto do Saara.

O papel dos homens e das mulheres também mudou muito, tanto no mercado de trabalho quanto nos relacionamentos. Hoje é muito comum mulheres chefes de família, que ganham mais que seus maridos, que se casam depois dos 30 anos ou, eventualmente, nem se casam.

Hoje a maior parte dos trabalhadores do Brasil são mulheres que, cada vez mais, ocupam cargos de chefia.

Nossa presidente é uma mulher! Isso seria motivo de piada nos anos 80.

Porém, esses enormes avanços femininos, deixaram uma geração de homens inseguros, que não conseguem lidar com tudo isso, afinal de contas, fomos os últimos a ser educados no mundo de "ontem”.

Ressalto que, como sempre lembro, sou anarquista por definição e cada um, na minha maneira de pensar, deve ter o direito de fazer o que quiser, sem ninguém "cagando regra".

E nisso se incluem, obviamente, as mulheres e seus direitos. Viver em uma sociedade em que todo mundo realmente é igual (apesar dos bastiões de preconceito que ainda perduram por aí) é um orgulho (até porque ajudamos a conquistar isso) e um prazer. 

Nada melhor que uma mulher inteligente e independente que saiba o que quer e que seja capaz de discutir sobre qualquer assunto.

Mas isso não muda o fato que minha geração, que está na divisão de águas entre a idade média e a era espacial, não tem a menor ideia de como se situar nesses novos tempos.

Podemos dizer que vivemos o século feminino. O poder, em todos os sentidos, é das mulheres, desde o sexual, que sempre tiveram, ao financeiro, intelectual e familiar.

Como lidar com mulheres que fascinam e atemorizam ao mesmo tempo? Como mudar anos e anos de condicionamento? Qual o papel do homem em uma sociedade em que as mulheres podem tudo ou até mais do que eles?

Essa molecada de hoje, já cresceu no mundo dos celulares 3G e, provavelmente, acha essas minhas perguntas, no mínimo bizarras.

Mas para a minha geração, foi muita informação, muita transformação, muita mudança em pouco tempo. 

Alguns se adaptaram mais rapidamente. Outros ainda estão tentando se adaptar e, uma grande parte, parece cego em tiroteio.

Não por outro motivo, os psicólogos dizem que, a cada ano que passa, aumenta exponencialmente o número de pacientes do sexo masculino. A maioria tentando se achar e se encontrar no meio desse caos.

Quase todas as revoluções que trouxeram progressos a humanidade, foram sedimentadas à base de suor e sangue. 

Muitas cabeças rolaram, literalmente, para que a revolução francesa difundisse os ideais de liberdade e igualdade que norteiam a civilização ocidental. A revolução industrial inglesa, deixou muitos camponeses e artesãos na miséria e, a abertura da economia brasileira dos anos 90, que permitiu que tivéssemos acesso a carros "normais" e computadores de verdade, quebrou muita empresa por aí.

A era atual, em termos de valores, é muito, mas muito mais evoluída do que a que nasci. Contudo, os homens da minha geração limítrofe, com um pé no passado e outro no futuro, se tornaram dinossauros modernos.

Alguém tem que pagar o preço das mudanças e, neste caso específico, estamos devendo até as calças.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Para um amigo

A paixão consome.
O ódio destrói.
Os pensamentos se perdem,
Na calada da noite, escura e fria.

Mas quem se deixar encantar,
Pelos pequenos momentos,
Pequenas Vitórias,
Guiando sua vida, e não o contrário

Vai descobrir que o outono,
E a madrugada que rasga,
Não são mais fortes que a alma,
Nem que o raiar de um novo dia.



Para meu amigo E. Martinelli

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Desbravando o planeta

Juntar bens materiais, nunca foi meu maior objetivo. Entendo o trabalho e o dinheiro não como um fim, mas como um meio que me permite conhecer pessoas, lugares e culturas diferentes, o meu norte.

Não há nada melhor que viajar. Sozinho, com amigos, com a família, com a mulher... Viajar é, para mim, uma forma de me conectar com a minha essência.

Sempre que pude e posso, viajo, seja lá como for, de mochila, de carro, de avião, barraca, hotel, chão de aeroporto...

Quando estava no primeiro ano da faculdade, tranquei um semestre e, junto com dois amigos, conhecemos todo o Nordeste Brasileiro.

Com uma lista de todos os albergues da juventude da região em mãos e uma mochila nas costas, nos jogamos, literalmente, naquela região dura e bela ao mesmo tempo.

Não levamos muito dinheiro, as vezes comíamos em restaurantes de beira de estrada, dormíamos em casas de pescadores, caminhávamos quilômetros pelas areias e dunas em busca de praias paradisíacas que nos indicavam.

Nos albergues, conhecemos gente do mundo inteiro, aventureiros que rodavam o Brasil sem eira nem beira como nós, com as quais me diverti, aprendi e vivi experiências incríveis.

Conheci todo o litoral Nordestino, desde os lençóis Maranhenses até o sul da Bahia, tomando balsas para todas as ilhas que existem por lá.

O Nordeste é uma terra incrível, cheia de contrastes, com um povo belo e sofrido que, em sua simplicidade e alegria de viver, me ensinou muito... Nessa viagem, aprendi a me virar.

Foi em Jericoacoara, se me lembro bem, em um "bar" de um Israelense que tinha largado tudo para morar no Ceará - Aqui vale um parêntese, o bar era irado, tinha uma fogueira rodeada de colchões e travesseiros, ficávamos todos deitados, vendo aquela noite linda e estrelada que só tem para aqueles lados, ouvindo um reggae e conversando - pois bem, foi nesse bar que conclui que, dali pra frente, viveria para viajar.

Já fui a China. Comecei minha viagem por Shangai e Beijin. Foi um dos lugares mais diferentes que já conheci. O idioma, a comida, as roupas, os costumes, as lojas, os bares, o trânsito, as atitudes e as construções milenares do país tem lugar especial em minhas memórias.

Visitei a Praça Tiananmmen, sede do Governo Chinês e onde em 1989, tivemos o famoso e triste episódio do massacre de estudantes. Fui também no túmulo de Mao Tse Tung e fiquei impressionado com a gigantesca avenida de 16 faixas entre a praça e o mausoléu,  completamente tomada por bicicletas. Era o trânsito em duas rodas mostrando sua cara!

Obviamente não entendia nada e, apesar da China ser o segundo país do mundo em número de pessoas fluentes em inglês, nas ruas só se falava o mandarim.

Em um determinado momento, resolvi me comunicar em português mesmo: "Garçom, traz mais uma cerveja, por favor?", e o mais impressionante é que ele trouxe.

Mas o mais legal dessa viagem foi X'ian, uma das cidades mais antigas do mundo, com cerca de 3.000 anos. Em X'ian tive contato com a verdadeira China.

Andei em um "taxi-carroça" puxado por um chinês sorridente com um chapéu em forma de cone, vi uma senhora indo ao açougue e comprando carne de cachorro (como se fosse um frango), participei de um culto budista, perambulei pela cidade antiga e finalmente entendi o porque da China e sua cultura milenar serem consideradas ímpares.

Estive nas escavações arqueológicas dos soldados Terracotas (centenas de estátuas de argila antiquíssimas) que serviam para amedrontar os inimigos da cidade que pensavam estar diante de um enorme e poderoso exército.

E óbvio, fui também a grande muralha da China onde realizei um sonho de infância: Percorrê-la enquanto eu aguentasse. Vendo aquele paredão sem fim, entendi porque ela é a única construção humana vista do espaço...

Nesta mesma época, fui com minha ex-esposa a Barcelona, uma das cidades mais charmosas que já conheci.

Claro que fui ao Nou Camp assistir uma partida do Barça. Rodei pelos diversos jardins do parque Guell, conheci a Pedreira e me impressionei com a imponência da catedral da Sagrada Família, maiores obras de Antoni Gaudi. Tive o prazer e a sorte de jantar no restaurante de um dos melhores chefs do mundo, Ferran Adria e de ter por lá um casal de amigos que, além de nos receber de braços abertos, nos mostrou a cidade, seus bares de tapas além do modo de vida catalão.

Na Europa, estive também na Rússia no período das festas de final de ano (leia-se, um frio ártico).

Passeando pelo Kremlin, sede do Governo Russo, uma fortaleza que impressiona por sua suntuosidade, fica mais fácil entender como aquele país bateu de frente com os EUA durante meio século. Hoje em dia, o passado socialista convive em harmonia com o capitalismo selvagem dos nossos tempos. Chega a ser engraçado que o túmulo de Lênin, um dos mentores da revolução bolchevique, fique exatamente em frente a um dos maiores shopping centers de Moscow.

Outro lugar interessante que conheci, foi o museu da guerra fria, um bunker que fica cerca de 100 metros embaixo da terra, cheio de túneis, feito para abrigar a população da cidade em caso de uma guerra nuclear. A claustrofobia toma conta durante o passeio, mas valeu a pena.

Caminhei pelo parque Gorky, uma espécie de Ibirapuera de gelo onde, no inverno, os Moscovitas lotam o lugar a noite para patinar por suas ruas. Todo mundo lá parece campeão de patinação artística, não vou nem começar a discursar sobre minha "performance".

Na Rússia, também descobri que o que aqui consideramos beber muito é, por lá, o que qualquer senhora de 70 anos bebe em uma hora. Não sei se é por causa do frio, mas todo mundo toma Vodka, a qualquer hora e por qualquer motivo. Se toma no metrô, no Kremlin (onde tomamos uma tal de Daburka, uma espécie de quentão que ajudava a suportar o frio de -15 graus).

Tive a sorte de assistir o quebra-nozes no Balé Bolshoi, um espetáculo difícil de explicar em palavras. Movimentos perfeitos, orquestra perfeita, todo o ambiente e imponência do teatro...

O povo é extremamente simpático e me recebeu muito bem, talvez por ser brasileiro e ninguém entender o que eu fazia na Rússia no Inverno.

Uma outra coisa engraçada é que, nessa viagem, celebrei dois anos novos e dois natais. Os russos seguem o calendário Gregoriano e, suas festividades de final de ano são alguns dias depois das datas do ocidente. Como tudo lá é motivo para beber, resolveram comemorar nos quatro dias.

E o trânsito de Moscow? Se você pensa que dirigir em São Paulo é difícil, é porque não conhece as ruas e avenidas da Russia.

Conheci muita gente e uma cultura diferente, aproveitei cada segundo, passei um frio desgraçado (os moscovitas parecem nem ligar para o clima e dizem, ironicamente, que não existe frio, você que está mal agasalhado) e aprendi um básico (bem básico) de russo.

Dali, segui para a Ucrânia, onde estive nas ruínas de Pripyat, cidade onde viviam os trabalhadores da usina de Chernobyl, que sofreu, na década de 80, o mais sério acidente nuclear da história.

Hoje em dia, ao percorrer as ruas de Pripyat, se pode ter uma ideia do que aconteceria se a espécie humana desaparecesse do planeta. A vegetação tomou conta de tudo, as árvores arrebentaram o asfalto e invadiram as janelas dos prédios, criando uma paisagem desoladora e ao mesmo tempo fascinante. As visitas são de, no máximo 3 horas, visto que a região ainda tem resquícios de radioatividade.

Fiz muitas outras viagens pelo norte do planeta, mas o que gosto mesmo, é de viajar pelo Brasil e pela América do Sul.

No Brasil já rodei muito. Além do Nordeste, morei em Floripa muitos anos percorrendo, nessa época, grande parte do Sul do país. Vivi no Rio e conheci todas as suas praias, no interior de São Paulo, de Minas, já estive em Bonito, acampei na Chapada dos Viadeiros, em fazendas de Goiás e na tríplice fronteira. Visitei o Arroio Chuí, vi a Pororoca pelos rios do Pará e conheci quase todo o litoral e ilhas deste imenso país.

Os países da América do Sul são um caso a parte. Não sou nenhum Che Guevara que percorreu todos os países do continente em sua moto, mas conheço bem as terras hermanas.

Sou fluente em castellano e literalmente apaixonado por nosso continente, principalmente quando você sai dos roteiros turísticos e se joga.

Na primeira aventura que tive, eu e dois amigos fomos até Machu Picchu no Peru. O mais legal da viagem não foi o destino final e sim o trajeto em si.

Fomos de ônibus até Corumbá, viagem que levou quase um dia, quase como um prenúncio do que estava por vir.

De lá, fomos a pé, com mochila nas costas, até a cidade de Puerto Quijarro, na Bolívia (Cerca de 6 kilometros de Corumbá), onde pegamos o trem Oriental (famoso "trem da morte"), até Santa Cruz de La Sierra.

O nome "trem da morte "vem do fato que, no passado, descarrilamentos eram comuns. Hoje não existe mais isso (ou pelo menos assim me disseram).

Se você quer uma experiência roots de verdade, o lance é desencanar e encarar a viagem. Os bancos são duros, com encosto fixo, e, como os vagões estão quase sempre lotados, muitas vezes as pessoas tem que viajar de pé ou dormir no chão, em meio a porcos e galinhas.

A lentidão da viagem (quase 18 horas) é garantida pelo pinga-pinga do comboio: ele vai catando e deixando gente em tudo quanto é vilarejo ao longo dos cerca de 640 quilômetros entre Puerto Quijarro e Santa Cruz. Mas o visual compensa. Os precipícios da cordilheira dos Andes, as enormes montanhas que cruzamos e vimos eram impressionantes. Mais imagens para guardar.

No trem, você encontra de tudo, desde limonada servida em um balde até espetinho de porco com a mesma qualidade daqueles camarões de Mongagua. A melhor coisa é levar um lanche na mochila (que deve estar sempre próxima, para que não "suma") e entregar para Deus.

Chegando a Santa Cruz de la Sierra, tomamos um ônibus que vai sacolejando pela cordilheira dos Andes até Cuzco no Peru, de onde você pode caminhar até Machu Picchu por uma das trilhas Incas.

Passei vários perrengues nessa viagem, mas aprendi muita coisa, vi paisagens inesquecíveis, pessoas que me marcaram e resquícios de uma civilização antiga dotada de uma cultura riquíssima e única.

Andei de lhama, comprei gorro boliviano, roupa típica peruana, ganhei camisa de time de futebol local, comi seviche, tomei chá de coca e, como sempre acontece nessas minhas andanças, pensei em nunca mais voltar.

E o que falar da Argentina, país que mais me encanta no mundo?

A Buenos Aires já fui várias vezes e, pelo menos uma vez por ano, perambulo por suas ruas.

É uma cidade linda, lar de um povo acolhedor, cheia de parques, museus, ruas e construções antigas, excelentes restaurantes e uma vida noturna ímpar.

Adoro acordar cedo e caminhar por suas "calles", conhecer lugares diferentes, bazares, feiras livres - como a famosa feira livre em Santelmo -, bares, estádios de futebol...

Obviamente, ali também desfruto de uma de minhas maiores paixões... Un asado con viño.

Fui também ao extremo Sul do planeta, a cidade de Ushuaya, na Patagônia, mais precisamente na terra do fogo.

Com suas imensas geleiras eternas, lagos glaciais, paisagens lunares, animais exóticos e o farol do fim do mundo, aquela região, na fronteira com o Chile, de onde saem todos os navios com destino a Antártida, é uma das mais bonitas que visitei em toda minha vida.

Perto da fronteira, estivemos no último posto dos correios do continente, onde se pode carimbar o passaporte com um símbolo do fim do mundo e descobrir, em primeira mão, se a lenda dos castores assassinos é verdade (diziam por lá que os simpáticos bichinhos são capazes de roer o osso da perna de um homem, para defender seus filhotes).

Em Ushuaya, além de percorrer de barco o cabo Horn, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico, caminhar pelas geleiras e conhecer uma das montanhas mais altas do mundo (monte Fitz Roy), conheci um casal de velhinhos mexicanos que percorreram toda a América, do Alaska a Ushuaya, em seu jipe. Confesso que fiquei com inveja da energia, disposição e da viagem que fizeram.

Em terras platinas, também estive em Córdoba, Rosário, Mendoza e Santa Fé.

Já fui da Argentina ao Uruguay de ferry boat até Punte del Este onde, depois de alguns dias, fui de carro até a praia de Atlantida, onde o Rio da Prata encontra o Oceano em uma das mais belas paisagens litorâneas do Sul do mundo, quase na fronteira com o Brasil.

Outro pais que adoro é o Chile. Santiago, rodeada pelos Andes, impressiona desde a travessia aérea sobre a cordilheira. Se pode esquiar, desfrutar de sua arquitetura, dos monumentos históricos, comer no mercado municipal y degustar un viño exquisito.

Em uma outra viagem pela região estive no Panamá e na República Dominicana. Se você quiser conhecer o Caribe, não deixe de visitar suas praias azuis e transparentes.

Encerrando o giro latino americano, quando morei em Nova York, trabalhava para um banco que tinha clientes por toda a América Latina e, por isso, fiz constantes viagens profissionais para a Colômbia, México, Venezuela...

Já rodei bastante e pretendo rodar bem mais...

E o mais legal é que cada viagem, cada destino, cada amizade, cada conversa, cada viela, cada montanha, cada praia, cada alegria que senti, cada perrengue que passei, ficará para sempre em minhas lembranças e isso nenhum dinheiro do mundo compra.

Até porque, como dizia meu avô:

"Filho, o que se leva dessa vida, é a vida que se leva. Nada mais..."

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E nosso congresso é realmente um circo

E a votação secreta que absolveu o "deputado" Natan Donadon?

Nossa bizarra camara dos Deputados, de forma ímpar acaba de lançar mais uma moda:

Em mais um tapa na cara, uma afronta a população brasileira, deixando extremamente claro que estão pouco se lixando para a opinião pública, esses 300 picaretas com anel de Doutor criaram a figura do deputado presidiário.


Donadon será o primeiro deputado do planeta terra a comandar seu gabinete do presídio.

É uma cara de pau de dar inveja ao pinóquio. Pelo amor de Deus, o cara chegou ao plenário algemado e de camburão!

Fora os mais de 40 "representantes do povo" que nem foram ao congresso. Óbvio que todos os mensaleiros se abstiveram, afinal, amanhã serão eles os julgados.

Mas não se esqueçam, somos NÓS os culpados, afinal, fomos NÓS, e mais ninguém, que elegemos esse bando de salafrários. De longe o pior congresso de toda a história republicana.

Isso é uma vergonha! A cadeia da papuda, atual residência deste ilustre criminoso, foi devidamente homenageada por esses calhordas.



Deputados que faltaram a sessão de cassação de Natan Donadon:

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O casamento gay e a homossexualidade

Tenho minhas convicções pessoais sobre a homossexualidade e sei que cada um tem as suas, baseadas, normalmente, na época em que fomos educados (a molecada nasceu em uma sociedade mais aberta e mais tranquila em relação ao "diferente" que a minha geração, que ouviu por todo o sempre, as maiores bizarrices sobre o assunto).

Primeiramente, não vou discutir as opções sexuais de ninguém, mas sim o casamento gay, com suas implicações práticas, religiosas e legais.

Para marcar o tom do que escreverei, deixo claro que sou partidário do "laissez faire, laissez aller, laissez passer", famoso ditado francês que quer dizer algo como "deixe fazer, deixe ir, deixe passar".

Além disso, sou anarquista por convicção e não acredito que ninguém tenha o direito de ditar o que devo ou não fazer. Por coerência, devo estender esse mesmo direito aos gays, as meninas da torcida adversária, aos acadêmicos da cadeira de direito e à todas as senhoras da associação.

Ou seja, para mim, cada um faz o que quiser, desde que não atrapalhe os direitos do outro.

Isso posto, o casamento gay é um dos temas mais polêmicos dos dias atuais. Mesmo pessoas que se dizem "sem preconceito", tem reservas quanto esse assunto vem a tona.

Sejam ressalvas religiosas (quem nunca ouviu alguém dizer que casamento tem que ser homem com mulher?), práticas ("A função biológica do casamento é a perpetuação da espécie e como ficam os gays nessa? Caso optem pela adoção, como será a vida da criança, que crescerá em um ambiente depravado???") e legais (os casais gays devem ter o mesmo direito que um casal "normal"?).

Começarei pelo terceiro ponto, até porque parece ser o que mais avançou neste últimos anos e parece já ter sido digerido pela sociedade. Hoje em dia, só uma minoria (embora estridente) discorda do reconhecimento legal de relações homossexuais ("união estável") que lhes da acesso a importantes direitos civis.

Mas por mais que se permita que estes casais tenham direito ao benefício legal, sem dúvida um grande avanço, isso é o mínimo que se espera de uma democracia.

Todos são iguais perante a lei e, assim como me foi permitido casar em uma igreja (insira aqui qualquer templo religioso), todos deveriam poder fazer o mesmo. Não existem cidadãos de segunda classe.

O segundo ponto, da adoção, é o mais polêmico. O argumento utilizado é mais ou menos o seguinte:
"Certo, até concordo que eles podem se casar... mas adotar uma criança??? E os valores e os bons costumes???"

Este argumento parte do princípio que, por serem gays, os pais exporiam o fedelho adotado à situações  que não seriam expostas se tivessem pais "normais" (por exemplo uma vida promíscua). Além disso, se são gays, não devem pensar do "jeito certo" e isso certamente influirá na formação do coitado do moleque.

Nada mais absurdo.

Para mim, existem pessoas boas e pessoas nem tão legais assim. Algumas capacitadas à serem bons pais e outras nem tanto. A possibilidade de uma criança ser criada de forma adequada se esse casal for hétero ou homo é igual. Bons pais darão amor, proteção e carinho à seus filhos independente de sua orientação sexual. Até porque, o que tem isso a ver??

O que se pede é que, os agentes públicos que supervisionam a escolha de pais preparados para uma adoção, tenham o mesmo rigor (sem tirar nem por) independente do casal ser hétero ou não.

Qualquer coisa além disso é preconceito e não no sentido negativo da palavra. Como diria uma amiga, preconceito exige ter-se uma noção prévia, um conceito anterior, para julgar e analisar os fatos.

Para mim parece claro que grande parte da população não entende (ou faz força para não entender) a homossexualidade e tem "pré conceitos" criados em cima da falta de conhecimento.

Avançando ao último ponto, o religioso, aí o buraco é mais embaixo. A maior parte das religiões condena a homossexualidade. Até porque, foram concebidas milênios atrás, em uma época que o homem pensava de forma completamente diferente. 

Os clérigos tem a tendência de levar as escrituras à ferro e fogo. E não é só com os gays, a maior parte das religiões também discrimina as mulheres, por exemplo, que não podem ser padres/rabinos/sultões, e os casais que usam camisinha...

Nada mais paradoxal. Todas as religiões pregam a igualdade entre os homens e a bondade do criador, certo? Como explicar, então, que os gays sejam tratados de forma diferente? Qual o motivo para a  discriminação? Somos todos iguais e tal, mas uns mais iguais que os outros?

A parte, um Deus bondoso iria colocar de lado alguém por suas preferências sexuais?

Nesse sentido, me surpreendeu a declaração do papa argentino, que disse claramente que "os gays pertencem ao rebanho de Deus" e ainda perguntou "quem era ele para julgá-los". Frases aparentemente simples mas que, para o dignitário de uma religião que sempre se caracterizou pelo conservadorismo, são um grande avanço.

Estamos no século XXI. Um século em tivemos grandes descobertas, avanços científicos e comportamentais. Mas em alguns assuntos, parece que ainda vivemos na idade média.

Mas será que é tão difícil enxergar além do cabresto e perceber que todos tem o direito de buscar a felicidade da forma que escolherem?

Mesmo quem não concorda deveria respeita as opções e os direitos dos outros. Até porque, um dia se é cravo, no outro ferradura.

Parafraseando Voltaire, "posso não concordar com nenhuma de suas atitudes mas defenderei até a morte seu direito a fazer o que quiser".

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A última viagem do homem

O mundo terminou no dia 27 de agosto de 2036. Ou pelo menos esse foi o dia em que o oxigênio acabou. Tento não pensar em todas as pessoas que ficaram para trás, morrendo em agonia lenta, asfixiadas.

Sou um dos poucos sobreviventes da espécie humana. Tenho mais de cinquenta anos, um paradoxo, visto que os poucos escolhidos para fazer parte deste grupo são, em sua grande maioria, jovens na casa dos seus 30 anos. Ao todo, utilizando o elevador orbital que conectava a base de alcântara, na zona do Equador Brasileiro ao espaço, construímos vinte e cinco naves, cada uma do tamanho de 5 transatlânticos enfileirados.

Tento me lembrar que isso era  necessário para garantir a continuidade de nossa espécie. Muitos artistas excepcionais, escritores, músicos, poetas, filósofos e intelectuais ficaram para trás.

Tento, em vão, esquecer que ela ficou para trás...

O novo governo, que surgiu depois das guerras do oxigênio, optou por escolher somente indivíduos essenciais para a nova colônia. As naves, cada uma com capacidade para 6.000 pessoas, entre tripulantes e passageiros, estavam apinhadas de engenheiros, arquitetos, médicos, cientistas, geólogos, nutricionistas, físicos, matemáticos e biólogos.

A grande maioria foi selecionada não só por suas mentes brilhantes, mas também por seus corpos perfeitos. Não tínhamos cem por cento de certeza de como reagiríamos a dura viagem de quase dois anos pelo espaço sideral mas tínhamos certeza que os mais fortes teriam maiores chances de sobreviver a essa jornada e a vida na nova colônia.

Para garantir a ordem na lua de Saturno, o comando unido da Terra contava com cerca de 4.000 soldados, todos oriundos das melhores tropas especiais do planeta.

Uma das naves, chamada ironicamente de arca de Noé, transportava uma enorme variedade de animais e plantas. Com eles viajavam os oficiais do CPB (Comando de Preservação da Biodiversidade) um grupamento especial de veterinários, zootécnicos, botânicos e outros cientistas especialmente treinados para garantir a sobrevivência da carga viva.

Além disso, esta "arca" levava filamentos de DNA de toda a flora e fauna terrestre. Se encontrássemos condições propícias, poderíamos, um dia, cloná-los.

Tento, de novo, afastá-la de minha mente...

A maior parte do serviço braçal era feito por CSK-400s, robôs de última geração produzidos especialmente para a viagem, dotados de inteligência artificial e características físicas muito semelhantes as dos humanos. Era difícil não sentir um calafrio na espinha ao ficar frente a frente com uma dessas máquinas. Eram capazes de levantar centenas de quilos, caminhar pelo exterior da nave sem nenhum tipo de proteção, se comunicar perfeitamente em vários idiomas além de parecerem dotados de emoções...

Esses robôs, apesar do medo gutural que instigavam, seriam essenciais para o sucesso da missão. Só eles poderiam fazer a manutenção das turbinas nucleares e outros reparos externos necessários devido as constantes colisões com asteroides. Além disso, lá fora, estaríamos expostos aos raios cósmicos e ventos solares que matariam um ser humano em questão de minutos.

Também pretendíamos utilizá-los nas missões exploratórias em Europa, tanto em sua superfície quanto em seu misterioso oceano interior.

Europa sempre foi uma das luas de Saturno que mais instigou a curiosidade da comunidade científica. Sua superfície coberta de gelo, garantiria toda a água que necessitaríamos em Nova Terra (como os passageiros das naves já começavam a se referir ao astro). As enormes máquinas de tratamento hídrico seriam montadas assim que desembarcássemos.

Quando a missão Veritas descobriu a existência de vida na lua há 10 anos atrás, sabíamos que colonizar Europa seria nossa única chance de sobrevivência.

As vezes é difícil acreditar que o mundo acabou. Aquela enorme erupção no planalto central brasileiro, cobriu os céus de fuligem há quase uma década. Sem o sol, as plantas morreram aos poucos. Sem as plantas...

Por mais de 100 mil anos, o homem explorou os recursos naturais da terra de forma irresponsável e desenfreada. Pagamos um alto preço por isso.

Minhas pesquisas descobriram o processo de fissão nuclear que permitiu o desenvolvimento dos motores que nos levariam a Europa e gerariam toda a energia que precisaríamos em nosso novo lar.

Me trouxeram por isso.

Vim nessa viagem contra minha vontade. Não queria tê-la deixado para trás. Tinha me preparado para morrer com ela, em nosso refúgio nas praias do litoral norte. Mais alguns anos da grande noite e estaríamos todos em paz.

Mas fui dopado e sequestrado pelo exército. Eu era necessário para operar, construir e ensinar a tecnologia de fissão nuclear (Só eu e a Dra.Wilkins à dominávamos totalmente).

Um dos meus maiores sonhos de criança era viajar pelo espaço, mas isso não me importava, não tinha sentido sobreviver sem ela. Implorei por sua vida mas de nada adiantou. Ela não era necessária. Apesar de brilhante em seu campo de atuação, não tinha nem a idade, nem a profissão ideal. Era descartável.

Sabedora de que nunca partiria sem ela, minha linda companheira, uma das mulheres mais inteligentes e corajosas que já conheci, fez um último sacrifício. O mais nobre que alguém pode fazer por amor.

Três meses antes da data programada para a decolagem das arcas, nos preparou um delicioso jantar (não sei onde conseguiu aquele salmão, visto que os peixes estavam quase extintos há anos) à luz de velas. Após a refeição, fizemos amor nas águas de nossa praia particular. Ela me disse que me amava e eu lhe disse que nunca iria abandoná-la. Dormimos abraçados na areia.

Quando acordei pela manhã, ela ainda estava em meus braços. Mas senti que algo não estava normal. Ela estava fria... Tentei acordá-la, ela não se mexia. Medi seu pulso... E não havia pulso....

Naquele momento vejo vultos vindo em minha direção e sinto uma picada em meu pescoço. Perco os sentidos em segundos e, quando acordo, já estou dentro da nave. Comandos das forças especiais, que nunca tinham deixado de me vigiar, me raptaram, antes que eu reagisse. Depois fiquei sabendo o que tinha acontecido. Ela havia se suicidado para que eu pudesse seguir viagem.

Deixou para trás somente um bilhete... Simples, direto e singelo, como tudo em sua vida.

"Estarei sempre com você..."

Foram suas últimas palavras...





domingo, 4 de agosto de 2013

Os paradoxos de Zenão - Do aniversário, a pedra passando pela flecha e a escalada

Zenão, foi um filósofo grego nascido na região onde hoje está a cidade de Vélia, na Itália. Este grande pensador, tinha um método de trabalho bem peculiar que consistia em mostrar o quão absurdas eram as hipóteses de outros filósofos, através de paradoxos.

Como funcionava isso?

Primeiramente, um paradoxo é uma declaração que aparenta ser verdadeira, mas que leva a uma contradição lógica.

Os paradoxos sempre me atraíram por serem desafios impossíveis de serem resolvidos. Paradoxalmente, como acontece sempre que me aparece algo desse tipo, fico quebrando a cabeça tentando resolvê-los.

Existem paradoxos de vários tipos. Alguns são chamados de paradoxos lógicos. Abaixo cito exemplos que desafiam o bom senso:

A frase "Eu sou mentiroso" é um clássico. Afinal, se estou falando a verdade e sou um mentiroso, estou mentindo. Hein? E se eu estiver mentindo? Será que menti ao dizer que sou mentiroso e, consequentemente, falo a verdade? Que???

Outro exemplo interessante é o Paradoxo do Grand Hotel: Se você tiver um hotel com um número infinito de quartos, e esses estiverem todos ocupados, ele ainda poderá receber mais hóspedes (cri cri cri).

Esse é um dos meus preferidos, o paradoxo do aniversário: Em uma sala com 23 pessoas, a chance de que pelo menos duas tenham a mesma data de aniversário é sempre maior d que 50%. Surpreso? Faça o teste... (eu já testei, óbvio).

Outros paradoxos são considerados metafísicos, isto é, se aventuram por assuntos que não podem ser explicados pela ciência.

O famoso paradoxo da pedra é um exemplo: Se Deus é onipotente e pode criar e levantar qualquer pedra, será que ele pode criar uma pedra que não consiga levantar?

Um outro muito bom é o de Epicuro, que prega que a existência do mal é incompatível com a existência de um Deus bondoso e ao mesmo tempo onipotente.

Poderia citar outros inúmeros exemplos, mas, vamos voltar a falar de Zenão, nosso amigo grego.

Como disse, Zenão era um mestre na arte de desacreditar outros sábios utilizando paradoxos. Um dos mais famosos que ele criou, é o de Aquiles e a tartaruga:

Imagine uma corrida de 10 Km entre esses dois personagens: Aquiles, um grande herói e atleta grego e uma tartaruga. Como Aquiles é bem mais veloz que a tartaruga, ele concorda em deixar ela sair na frente.

O paradoxo prega que Aquiles, não importa o quanto corra, nunca ultrapassará a tartaruga. Pode fazer o que quiser, bufar, espernear, xingar e sempre estará atrás do coitado do bichinho.

Mas como assim? 

Imagine que a tartaruga, quando Aquiles partiu, esta em uma posição A. Quando ele chegar a posição A, a tartaruga, estará mais a frente, na posição B. Quando ele chegar no ponto B, a tartaruga não estará mais lá, pois avançou para a posição C, e assim sucessivamente até o infinito.

Estranho não? Para explicar as contradições deste paradoxo, que leva em conta o conceito de tempo, eu teria que apelar para a mecânica quântica. E Zenão escreveu sobre isso na Grécia antiga...

Outro de seus paradoxos mais interessantes, é o da escalada.

Imagine que um alpinista esteja escalando uma parede rochosa. No primeiro minuto, ele escala metade da parede. Imagine que, a cada minuto, devido ao cansaço, nosso amigo só consiga escalar metade da distância percorrida no minuto anterior. No segundo minuto, ele sobe metade da metade da parede, no terceiro, escala 1/8 da rocha no quarto, 1/16 e assim sucessivamente até o infinito.

O resultado? Ele nunca conseguirá chegar ao cume... Certo?

Outra maldade de Zenão com seus contemporâneos foi criar o paradoxo da flecha voadora, de uma sutileza ímpar:

Ele afirma que uma flecha disparada, enquanto voa em direção ao seu alvo, está, na verdade, imóvel pois se não for assim, ela ocuparia várias posições ao mesmo tempo, o que é virtualmente impossível.

O tempo é feito com uma somatória de instantes, dias, horas, minutos, segundos... Imagine a menor período de tempo que existe. Em cada um destes instantes, peguemos como exemplo o instante X, a flecha esta "parada" em um determinado ponto de sua trajetória. No instante Y, estará parada também em algum outro ponto de sua trajetória e assim sucessivamente. Se a flecha esta parada em todos os momentos então ela esta sempre parada. Certo?

Dizendo de outra maneira, uma flecha não pode se mover através do ar pois a cada instante ela está em repouso em um ponto definido do espaço. No instante seguinte (não importa se um segundo ou um milésimo de segundo depois) ela também estará em repouso e assim sucessivamente. Ou seja, estará em repouso sempre.

Zenão também se divertia sacaneando seus pares com o paradoxo dos grãos de areia.

Ele partia do pressuposto que um grão de areia não pode ser considerado um monte de areia, certo? 

Bem, considere a seguinte situação: um milhão de grãos de areia constituem um monte, correto? Se você não concordar, considere dois, ou três milhões, ou o que lhe vier na telha.

Agora, imagine que você tire um grão desse seu monte de areia. Ele continua sendo um monte, não é? E se tirar mais um, ainda assim é um monte, certo? Repita essa operação por várias e várias vezes e chegaremos ao ponto em que haverá apenas um grão de areia, que será considerado um monte sem poder ser considerado um monte. Enfim...

Apesar de parecerem meros passatempos da revista Super Interessante, a verdade é que estudando os paradoxos, o homem exercita sua capacidade lógica e põe a prova seu intelecto.

Os paradoxos podem não ter lá tanta utilidade no dia a dia mas são, no mínimo, boas e curiosas histórias para contar aos amigos.

E quando for escalar, correr ou construir um castelo de areia, não se esqueça de dar uma risada, ao se lembrar dos paradoxos de Zenão.

sábado, 3 de agosto de 2013

O que você faria se fosse Deus?



Imagine que Deus resolvesse tirar umas férias de alguns séculos, afinal ninguém, nem Ele, é de ferro. 

Para não deixar o universo as favas seriam feitas eleições para decidir quem assumiria como Deus in absentia. A única exigência é que, os interessados, deveriam enviar, por escrito, sua plataforma de governo. 

Se você fosse um dos postulantes ao cargo, o que faria se eleito?  

Agiria como a Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo que usava o “faz de conta” para plantar melancias em árvores, parar as pulgas no meio de seus pulos e acabar com a morte das galinhas?

Ou como Zeus, jogaria raios na cabeça de quem te torrasse a paciência?

Bom... Vocês eu não sei, mas... Veja o que eu faria:

Primeiramente, mudaria as leis da física. Acabaria com esse negócio de não se poder viajar mais rápido do que a luz. O universo é gigantesco, cheio de estrelas, buracos negros, asteroides, planetas habitados e tal e cousa e lousa e maripousa e é até um pecado (até porque Eu decidiria o que é pecado!) não podermos explorá-lo!

Também diminuiria um pouco a gravidade terrestre e daria asas aos seres humanos. Assim, poderíamos voar por aí... Além de receber uma medalha do greenpeace, aposentando de vez automóveis, metrôs e ônibus, ninguém precisaria mais sofrer e se estressar em engarrafamentos da marginal, rodoviárias e aeroportos mequetrefes.

Provavelmente faria com que vivêssemos cerca de 300 anos. Para não criar um problema, diminuiria a taxa de natalidade humana, de forma que a terra não ficasse abarrotada de tiozinhos bicentenários.

Mandaria uns pecadores (definidos por mim, óbvio) para o inferno. Seria o fim dos políticos, empresários picaretas, do Lewandowsky e presidentes da Coréia do Norte. O José Dirceu, eu só mandaria de volta para Cuba.

Comida nunca mais iria engordar. Chega de dieta, academia e papinho de healthy-freaks. Todos poderiam comer de tudo e se manter esbeltos e saudáveis, sem frescuras.

Criaria mais três dias na semana (Para isso, mudaria a história da criação do mundo. Imaginem: "E Deus criou o mundo em 6 dias e, nos quatro seguintes, foi para a praia"). Assim todos os fins de semana seriam feriados prolongados. Afinal, trabalhar é muito chato, vamos combinar.

Como um Deus Palmeirense (não queria me gabar, mas torço para o Palestra) prometo não ser imparcial com o Corinthians... Se eleito faria com que eles ganhassem a segunda divisão todo ano.

Durante minha regência, todos iam nascer sabendo. Acabaria com esse negócio de ir à escola. Adeus provas, lição de casa, aula às sete horas da manhã, meu Eu!! Faria com que todo mundo passasse a infância e adolescência brincando e fazendo esporte.

Atendendo a muitos pedidos, faria com que as mulheres conseguissem se expressar de uma forma que os homens as entendessem e vice-versa. Parafraseando Neil Armstrong, um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade.

Nosso cérebro funcionaria de forma mais simples. Ao invés de anos e anos de terapia para aprender como andar para o lado ou dar um pulo, teríamos um painel na cabeça, apinhada de botões e alavancas que controlariam nossas ações e sentimentos.

Quer sentir alegria? Aperte o botão verde. Quer ficar calmo? Puxe a alavanca do meio. Brigou com a namorada? Pressione aquele grande botão vermelho escrito perigo... E assim por diante.

Definitivamente exterminaria o horário eleitoral gratuito e a voz do Brasil (Ninguém merece) substituindo-os, respectivamente, por séries inéditas da HBO e rádios de rock. Também mandaria o sertanejo universitário para o raio que o parta. Literalmente.

Durante meu reinado, os animais de estimação poderiam falar. Vai dizer que sou só eu que quero saber por que os cachorros correm atrás do rabo ou os gatos só vem perto da gente quando estão com fome?

As disputas entre povos não seriam mais resolvidas através de guerras. Em seu lugar, organizaria torneios de videogame. Os Brasileiros não aguentam mais os argentinos? 

Que desafiem os caras para um embate de Winning Eleven e está tudo certo.

Outra medida importantíssima é fazer com que todos, repito, TODOS os atendentes de call center servissem para alguma coisa e resolvessem de verdade nossos problemas. Em um minuto, é claro.

Para terminar, faria com que todos parassem de olhar para cima pedindo por um milagre para resolver seus perrengues. Com isso, quem sabe as pessoas assumissem mais seus erros e os encarassem de frente, ao invés de sair pela tangente e jogar a responsabilidade para o alto.

Afinal, a vida não é um mar de rosas, mas, se tomarmos um tombo, devemos nos levantar o mais rápido possível e tentar de novo. E sem apontar dedos!

Nosso destino só Deus conhece, mas cabe a cada um de nós, e a mais ninguém, traçá-lo.