segunda-feira, 29 de abril de 2013

O que realmente importa na vida? O que temos a aprender com a raça dos homens planta.

Quem tem mais de 30 anos, certamente já viu aquele seriado “twilight zone” (além da imaginação em português) em que um mundo fantástico, histórias e variações bizarras da realidade desafiavam seus sentidos e suas emoções, além de convidar seu cérebro a divagar.
Pois bem, todos os episódios deste seriado, começavam com uma frase simbólica: “What if...”, E se?? E se os alemães tivessem ganho a II Guerra, o que seria do mundo? E se a terra estivesse a alguns milhares de quilômetros mais distante do sol, o que aconteceria com o clima e a vida? E se você pudesse fazer com que o tempo andasse mais devagar, como reagiria? Especificamente neste episódio, me imaginava entrando em restaurantes caros, paralisando o tempo e saindo sem ser incomodado. Também sonhava em entrar na casa da Cindy Crawford, mas deixa pra lá.

Em uma noite de inverno, daquelas que chamam o sono de tão frio, assisti um episódio que me marcou... Não pelo assunto em si, mas por me fazer pensar nas consequências do que ele se propunha a discutir e, em como talvez estivesse levando minha vida de maneira errada. Neste dia, Twilight Zone apresentou uma hipótese intrigante: 

O que aconteceria se a vida inteligente na terra tivesse evoluído não do reino animal, e sim, do vegetal?

De maneira simples, o que aconteceria se, ao invés de sangue, tivéssemos clorofila correndo pelas veias e fizéssemos fotossíntese?
Não vou aqui entrar em uma discussão filosófica nem biológica. Mas vou abrir um parêntese que, prometo, será curto.  

A espécie humana, desde tempos imemoriais, trabalha porque precisa de comida. Ponto.

Na idade da pedra, a vida se resumia a caçar e coletar alimento, procriar e morrer. Não havia espaço nem tempo para nada que não envolvesse dedicar-se a uma das duas pontas do sistema digestivo. Com o passar dos milênios, o aumento da população, as eventuais disputas por recursos (primeiras guerras) e até com a piora das condições climáticas, o homem percebeu que, juntar-se em grupos facilitava, em muito, a obtenção de alimento e sustento. Em grupo, os homens conseguiam caçar animais maiores, percorrer um espaço maior atrás de frutas.
Em cavernas comunais, poderiam se proteger não só das intempéries climáticas, mas também do ataque de animais selvagens e de tribos rivais, além de abrigar, em relativa segurança, suas crianças e jovens. Nestes primeiros grupos, em uma versão pré-histórica do que posteriormente chamaríamos “sociedade”, o homem precisou criar regras para que nosso instinto animal não transformasse aquela reunião de seres da mesma espécie, em carnificinas, típicas dos tempos em que os recursos minguam. Com as regras, vem também a diversificação de funções. O homem não se dedicava somente a caçar e coletar. Alguns se especializam em pedir aos Deuses (e qualquer outra entidade adorada, venerada ou temida na idade da pedra) por prósperas caçadas.

Outros se encarregavam de produzir vestimentas, das peles dos animais, que os protegessem do frio. Certos indivíduos, dotados de maior habilidade no manejo de instrumentos de corte, preparavam armas, com pedras, paus e outros objetos que facilitassem a caça e a defesa do grupo.  Os primeiros artistas surgiram nesta época e se dedicavam a registrar, nas paredes de suas cavernas, (ancestrais pré históricas do facebook) as caçadas, festas e tragédias daquele tempo em que o homem engatinhava pela história.
Em suma, avançando rapidamente pelos séculos, nos tornamos animais sociais, cada vez mais especializados, com estruturas e regras cada vez mais complexas, cavernas cada vez maiores (que eventualmente se tornaram vilas, cidades e metrópoles), mas, no final do dia, não deixamos de ser uma versão evoluída do homem de Neanderthal vestindo ternos, com garbo e elegância claro, mas ainda em busca de alimento e sustento.

Os luxuosos apartamentos duplex que cobrem a orla da zona sul carioca, nada mais são que versões aprimoradas das grutas que um dia chamamos de lar. As roupas da estação que desfilam em grande variedade de cores, estilos, estampas e gostos pelas passarelas de Paris, Milão e Tóquio, não passam de versões fashion das peles de animais que usávamos para nos proteger do frio. Não montamos mais estratégias complexas para acuarmos mamutes em pontas de desfiladeiros, para que estes, cansados e sem esperança, terminassem por se jogar garantindo assim a alimentação da tribo, mas continuamos matando animais (agora em escala industrial) para comer sua carne.

As atividades se diversificaram muito nesses 100 mil anos de história humana. Os avanços tecnológicos fizeram com que fôssemos capazes de produzir tanto alimento que as pessoas podem ter escolhas e trabalhar em atividades que nem de longe parecem ter conexão com as atividades primordiais da coleta e da caça.

Fechando esse parêntese, volto ao tema de Twilight Zone, em que a vida inteligente seria composta de plantas, parecidos até, conosco, afinal as funções internas e externas de nossos órgãos e membros assim evoluíram em função do meio e de nossas necessidades que, teoricamente, seriam os mesmos. Mas haveria uma diferença enorme e sutil ao mesmo tempo:

Tirariam seu sustento do sol e do solo.
O que isso acarretaria as relações "humanas"? O que seria de um mundo em que nunca tivéssemos precisado caçar ou coletar? Um planeta em que, para tomar café da manhã, bastaria abrir os dois braços, deitar na praia e se esbaldar com os raios de sol?

O programa não entra nesta seara, limitando-se a uma discussão mais técnica.

Mas na minha opinião, a vida em sociedade teria evoluído de maneira bem diferente. Não precisaríamos viver em grandes grupos, para começar. Nos aproximaríamos das pessoas sim, mas não por necessidade e sim por afinidade. Além disso, este seria um mundo em que as atividades intelectuais prevaleceriam. O homem (ou seja lá como se chamaria essa raça de vegetais) teria muito mais tempo livre (não precisaríamos caçar!) e ocuparia grande parte deste tempo com atividades ligadas ao aprimoramento intelectual e a cuidar de sua saúde (mente sana in corpus sano).

E seriamos uma raça de viajantes...

Se o sustento vem do sol e do chão, nada impediria que pequenos grupos simpáticos emotiva e intelectualmente, viajassem pelo mundo em busca de conhecimento, trocando e vivenciando experiências. Tudo isso sem eira nem beira, sem rumo e sem regras (na prática, vivenciariam o sonho anarquista).

Com isso vem a pergunta: Até que ponto, as agruras do dia a dia, as dificuldades do trabalho, a sana por sempre querer mais, fazem com que esqueçamos qual o objetivo real de estarmos aqui?  

No fundo, por precisarmos nos alimentar para sobreviver, cada um faz o que pode para conseguir seu sustento. Com isso, as vezes confundimos fins com os meios e enxergamos no trabalho e nas coisas, o objetivo da vida.

Livres da “ditadura da comida”, estas árvores inteligentes poderiam se dedicar ao que realmente importa na vida... Se aproximar, conviver e cultivar o carinho das pessoas de quem você gosta, viajar muito, conhecer novas culturas e lugares, aprender tudo o que der e, se possível, ser feliz no processo pois, fora isso, não existe nada além de detalhes.

Naquela noite, pensei: "Não posso nunca mais me esquecer da raça dos homens planta!"

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Quem sou eu e o que quero com esse blog?

Sou um geminiano legítimo, nascido na década de 70, dotado de uma mente cartesiana, herança genética dos homens de minha família paterna, que ocupa boa parte de seu tempo tentando conviver, entender e eventualmente domar, uma sensibilidade enorme, irascível e intensa.

Este estado de constante conflito entre meu "eu" racional e meu "eu" emotivo e sensível, já me trouxe muitos problemas, desde conseguir compreender e aceitar as regras tácitas que regem a vida em sociedade, até ser aceito em um mundo que normalmente tem dificuldades de compreender e aceitar quem não segue estes padrões.

Por outro lado, esta mesma dicotomia me permitiu buscar sonhos que jamais pensei que poderiam ser meus. Me fez alçar voos que não sabia ter capacidade de alçar. Me levou a lugares distantes e exóticos que nunca pensei que conheceria. Me ajudou a construir uma carreira profissional que nunca, mas nunca mesmo, pensei que construiría. Me permitiu viver aventuras que nem lendo livros, meus eternos companheiros, vivi. Me trouxe amores intensos que não imaginava ser merecedor. Me apresentou a pessoas, companheiros de viagem e amigos verdadeiros que não achava que teria e, finalmente, me trouxe até aqui, relativamente são e salvo.

Vivi intensamente, a 1000 por hora, sem preocupações, sem freio e sem travas. Entre percalços e  improvisos, reflexões e atos impulsivos, escoriações, machucados, pauladas e carinhos, sobrevivi.

Hoje, próximo dos 40, idade em que o homem normalmente consegue se aceitar, se entender e se perdoar, percebo, pela primeira vez, ter atingido uma paz interior que me permite parar e refletir sobre o caminho que trilhei.

Um caminho árduo, duro, cheio de pedras, espinhos e cacos de vidro mas, ao mesmo tempo, que seguia por uma estrada de tijolos amarelos, cheia de curvas, com vista para o mar, dragões, cavaleiros de armadura e princesas.

Neste blog, usarei e abusarei de minha grande amiga, a palavra escrita, com a qual convivi todos estes anos, compartilhando o leito, os sonhos, os anseios, temores, amores, tristezas, alegrias, derrotas e vitórias.

A palavra escrita, meu refúgio... onde sempre consegui colocar pra fora tudo o que eu sentia, falar o que eu não conseguia falar, escapar do medo paralisante que as vezes me acometia.

Por ter sido minha companheira durante todos estes anos, e por saber que, apesar de nossa relação promíscua, ela, a palavra, nunca me abandonará, resolvi fazer-lhe esta singela homenagem.

Mal escritas linhas nunca conseguirão expressar a importância das palavras para mim.

Mas, como tudo em minha vida, as escreverei mesmo assim.

Agradeço ao meu avô que, quando criança, me incentivava a ler dicionários. Ao meu pai e minha mãe por me apresentarem desde cedo, ao mundo dos livros, que me levava a lugares mágicos e só meus, a minha irmã e minha prima que sempre me incentivaram a organizar meus textos e, claro, a uma pessoa muito especial que me deu um último, pequeno mas deveras importante impulso que fez com que eu finalmente perdesse o medo de partilhar meus textos, antes só meus.

Um grande abraço a quem veio até aqui. Volte sempre. :)

Sem me prolongar mais, apresento-lhes,

Minhas palavras...