sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O casamento gay e a homossexualidade

Tenho minhas convicções pessoais sobre a homossexualidade e sei que cada um tem as suas, baseadas, normalmente, na época em que fomos educados (a molecada nasceu em uma sociedade mais aberta e mais tranquila em relação ao "diferente" que a minha geração, que ouviu por todo o sempre, as maiores bizarrices sobre o assunto).

Primeiramente, não vou discutir as opções sexuais de ninguém, mas sim o casamento gay, com suas implicações práticas, religiosas e legais.

Para marcar o tom do que escreverei, deixo claro que sou partidário do "laissez faire, laissez aller, laissez passer", famoso ditado francês que quer dizer algo como "deixe fazer, deixe ir, deixe passar".

Além disso, sou anarquista por convicção e não acredito que ninguém tenha o direito de ditar o que devo ou não fazer. Por coerência, devo estender esse mesmo direito aos gays, as meninas da torcida adversária, aos acadêmicos da cadeira de direito e à todas as senhoras da associação.

Ou seja, para mim, cada um faz o que quiser, desde que não atrapalhe os direitos do outro.

Isso posto, o casamento gay é um dos temas mais polêmicos dos dias atuais. Mesmo pessoas que se dizem "sem preconceito", tem reservas quanto esse assunto vem a tona.

Sejam ressalvas religiosas (quem nunca ouviu alguém dizer que casamento tem que ser homem com mulher?), práticas ("A função biológica do casamento é a perpetuação da espécie e como ficam os gays nessa? Caso optem pela adoção, como será a vida da criança, que crescerá em um ambiente depravado???") e legais (os casais gays devem ter o mesmo direito que um casal "normal"?).

Começarei pelo terceiro ponto, até porque parece ser o que mais avançou neste últimos anos e parece já ter sido digerido pela sociedade. Hoje em dia, só uma minoria (embora estridente) discorda do reconhecimento legal de relações homossexuais ("união estável") que lhes da acesso a importantes direitos civis.

Mas por mais que se permita que estes casais tenham direito ao benefício legal, sem dúvida um grande avanço, isso é o mínimo que se espera de uma democracia.

Todos são iguais perante a lei e, assim como me foi permitido casar em uma igreja (insira aqui qualquer templo religioso), todos deveriam poder fazer o mesmo. Não existem cidadãos de segunda classe.

O segundo ponto, da adoção, é o mais polêmico. O argumento utilizado é mais ou menos o seguinte:
"Certo, até concordo que eles podem se casar... mas adotar uma criança??? E os valores e os bons costumes???"

Este argumento parte do princípio que, por serem gays, os pais exporiam o fedelho adotado à situações  que não seriam expostas se tivessem pais "normais" (por exemplo uma vida promíscua). Além disso, se são gays, não devem pensar do "jeito certo" e isso certamente influirá na formação do coitado do moleque.

Nada mais absurdo.

Para mim, existem pessoas boas e pessoas nem tão legais assim. Algumas capacitadas à serem bons pais e outras nem tanto. A possibilidade de uma criança ser criada de forma adequada se esse casal for hétero ou homo é igual. Bons pais darão amor, proteção e carinho à seus filhos independente de sua orientação sexual. Até porque, o que tem isso a ver??

O que se pede é que, os agentes públicos que supervisionam a escolha de pais preparados para uma adoção, tenham o mesmo rigor (sem tirar nem por) independente do casal ser hétero ou não.

Qualquer coisa além disso é preconceito e não no sentido negativo da palavra. Como diria uma amiga, preconceito exige ter-se uma noção prévia, um conceito anterior, para julgar e analisar os fatos.

Para mim parece claro que grande parte da população não entende (ou faz força para não entender) a homossexualidade e tem "pré conceitos" criados em cima da falta de conhecimento.

Avançando ao último ponto, o religioso, aí o buraco é mais embaixo. A maior parte das religiões condena a homossexualidade. Até porque, foram concebidas milênios atrás, em uma época que o homem pensava de forma completamente diferente. 

Os clérigos tem a tendência de levar as escrituras à ferro e fogo. E não é só com os gays, a maior parte das religiões também discrimina as mulheres, por exemplo, que não podem ser padres/rabinos/sultões, e os casais que usam camisinha...

Nada mais paradoxal. Todas as religiões pregam a igualdade entre os homens e a bondade do criador, certo? Como explicar, então, que os gays sejam tratados de forma diferente? Qual o motivo para a  discriminação? Somos todos iguais e tal, mas uns mais iguais que os outros?

A parte, um Deus bondoso iria colocar de lado alguém por suas preferências sexuais?

Nesse sentido, me surpreendeu a declaração do papa argentino, que disse claramente que "os gays pertencem ao rebanho de Deus" e ainda perguntou "quem era ele para julgá-los". Frases aparentemente simples mas que, para o dignitário de uma religião que sempre se caracterizou pelo conservadorismo, são um grande avanço.

Estamos no século XXI. Um século em tivemos grandes descobertas, avanços científicos e comportamentais. Mas em alguns assuntos, parece que ainda vivemos na idade média.

Mas será que é tão difícil enxergar além do cabresto e perceber que todos tem o direito de buscar a felicidade da forma que escolherem?

Mesmo quem não concorda deveria respeita as opções e os direitos dos outros. Até porque, um dia se é cravo, no outro ferradura.

Parafraseando Voltaire, "posso não concordar com nenhuma de suas atitudes mas defenderei até a morte seu direito a fazer o que quiser".

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