quinta-feira, 9 de maio de 2013

Religião e Religiosidade

O que é "religião"? Como e porque ela surgiu?

Imagino que, quando os primeiros Homens desceram de suas árvores, e tomaram consciência que existiam, também se deram conta de uma série de fenômenos, o fogo, tempestades, ataques de animais selvagens, guerras entre diferentes tribos... Todos nós, acho que desde aquela época, temos a necessidade de "entender" as coisas. Quando não existe uma forma lógica de explicar algo, que se invente uma história explicando-a.

Junte-se isso as noites escuras e fundas daquela época - Freud já disse que o medo do escuro é um sentimento poderoso que esta arraigado no subconsciente da espécie humana - e a necessidade de encontrar manadas de animais, frutas e vegetais que garantissem a alimentação da tribo.

Tudo conspirava para que a mente humana criasse as mais férteis explicações para aplacar suas necessidades e medos.

Neste ambiente, podemos imaginar que, em determinado momento, alguns membros da tribo mais inteligentes, criam lendas e histórias para "explicar" tudo que ninguém entendia. Eram pessoas com um dom nato para a oratória conhecimento de plantas medicinais. O que isso significava? Estavam oficialmente criados os primeiros homens da religião, que explicavam a vida após a morte, traziam sorte as caçadas, tratavam os doentes...

Corroborando com esta tese, temos evidências de que os homens já enterram seus mortos há quase 80 mil anos. Enterrar os mortos é um forte indício de que o homem pré-histórico já teria, no alvorecer da humanidade, algum tipo de crença relacionada a vida após a morte e a existência de entidade divinas.

Estes primeiros xamãs, por boa fé, isto é, para transmitir conhecimentos que julgavam ser importantes para a sobrevivência do grupo, ou por má fé ou seja, buscando beneficies como não precisar se arriscar em caçadas, por exemplo, se tornam os primeiros pregadores da história.

A religião esta intimamente ligada a história da espécie humana. Em todos os povos, tribos e regiões onde o homem vive ou viveu, encontramos indícios de práticas religiosas.

Porque isso? Apenas ma maneira de explicar o inexplicável?

Ou será que, mesmo povos primitivos, seguiam religiões por virem ao mundo com lembranças da vida espiritual?

Como aceitar a fé, por exemplo?

Em todas as sociedades conhecidas, sempre tivemos uma classe dominante. Seja o Neanderthal mais forte e com a clava maior, seja a nobreza, dos faraós do antigo Egito e da Roma dos Césares, os religiosos e senhores feudais da idade média ou os cidadãos da "democracia perfeita" de Atenas, cidade que, ironicamente, possuía a maior população de escravos da civilização helênica.

Em termos práticos, tínhamos uma minoria, indivíduos com poder, bens e direitos superiores aos demais e a imensa maioria que, teoricamente, detinha a força dos números e poderia facilmente se rebelar, mas não tinha nenhuma representação e tinha uma vida miserável.

Como explicar que esta maioria da população aceitasse (e aceite) passivamente a perpetuação destas desigualdades?

Pode-se argumentar que as regras do direito (que regem todas as nossas interações), impedem, de certa forma, que voltemos a barbárie. Mas elas só tem efeito prático se os homens quiserem segui-las.

Como justificar então, que uma imensa maioria veja como normal a existência de elites - com mais bens, vantagens, oportunidades, etc - e seus "privilégios"?  Ou como assegurar que os órgãos responsáveis por manter o status quo (polícia, exército), em grande parte formado por indivíduos das classes menos favorecidas, lutem contra membros de sua própria classe?

Neste ponto, na minha opinião, entra a mais importante função das religiões...

Quando um Faraó se proclama o Deus Sol, e os religiosos no Egito martelam e propagam esta ideia, não o fazem somente para massagear o ego dos governantes. Mais do que tudo, estamos falando de uma forma arcaica de dominação social. Para um cidadão Egípcio doutrinado desde pequeno a acreditar que seu rei é um instrumento divino, ficava mais fácil aceitar sua vida Severina.

Nos círculos internos do poder e da nobreza, todos sabiam que o rei defecava, transava, comia de tudo e morria como qualquer um e que sua "divindade", não passava de um embuste.

Quando Henry Stuart rompe com Roma, o Papa e a Igreja Católica, para fundar a Igreja Anglicana - no fundo pois havia se cansado de sua esposa, Catarina de Aragão e queria o divórcio, (que não conseguiu), para se casar com sua concubina, Anne Boleyn - ele impôs, como um dos fundamentos mais importantes da religião recém criada, que o Rei da Inglaterra fosse doravante considerado o representante de Deus na terra e o líder supremo da nova Igreja.

Religião é poder!

Para mim, as religiões criadas por homens, alguns bem intencionados outros nem tanto, sempre objetivaram, além de responder questões que não conseguimos responder, exercer e justificar algum tipo de controle.

Por outro lado, 99% delas - existem exceções, como as religiões que predominavam na América pré-colombiana, na qual os "Deuses" exigiam sacrifícios humanos constantes para "abençoar" a colheita, de preferência, de inimigos capturados ou de quem o Imperador não fosse com a cara - pregam valores de fraternidade, caridade e desapego.

Além disso, temos muitos homens e mulheres a serviço destas religiões que são exemplos de dedicação ao próximo, como Dona Zilda Arns, morta recentemente em um terremoto no Haiti, onde ensinava e distribuía o soro caseiro para mães e crianças carentes.

Mas tenho a convicção que as religiões tem como um importante papel,  justificar a dominação das massas e as desigualdades sociais o reino dos céus é dos pobres....

E a religiosidade, onde entra?

Religiosidade é, para mim, a soma dos conceitos internos de cada indivíduo, sobre a existência (ou não) de Deus ou de uma entidade superior, e de todos os desdobramentos dessa ideia.

Acredito na existência de um Deus, de um criador e na existência de um plano mestre.Acredito em Karma, acredito no desapego e no amor ao próximo. Essa é a minha religiosidade.

Seguir ou não uma religião formal é secundário para mim. Mas a verdade é que em todas as religiões, encontrei coisas boas que tento trazer para minha vida, e coisas ruins, como o que falei da ferramenta de dominação.

Mas a religiosidade, por outro lado, é uma janela da alma pela qual podemos enxergar nossa centelha divina, e aprender com ela.




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