sexta-feira, 17 de maio de 2013

As gangorras da vida

Todo mundo passa por momentos de euforia e depressão. Isso é quimicamente comprovado.

Situações de stress que, normalmente, servem para nos colocar em alerta para funcionar a full (resquícios da época em que injeções de adrenalina eram a diferença entre fugir do dente-de-sabre e a morte), quando extremadas, acabam exaurindo os músculos, e as reservas de energia, levando o cérebro a "desligar" ou diminuir certas atividades, entre elas a produção de serotonina, neurotransmissor que atua no cérebro, regulando, por exemplo, nosso apetite, sono, humor e a temperatura corporal.

Enfim... Com baixo nível de serotonina no corpo, entramos em um estado similar ao de um carro em "ponto morto". Nesta hora, nos tornamos introspectivos e conseguimos refletir mais sobre os problemas que nos afligem. Seria essa a função "social", segundo terapeutas, da falta de serotonina.

Da mesma forma, se produzida em excesso, e são várias as situações do dia a dia em que isso acontece (exercício físico, por exemplo, estimula a produção da substância), pode nos levar a uma situação de euforia, que também tem sua função em nossas vidas (são, por exemplo, em momentos de euforia, que utilizamos ao máximo nosso potencial criativo).

Passar por pequenos períodos de um ou dos dois estados é normal, e, como já disse, até benéfico. A prova cabal reside no fato que a seleção natural, em milênios aperfeiçoando o corpo humano, trouxe a serotonina (ou falta de) consigo.

Quando pequeno, não entendia esses conceitos mas conhecia seus efeitos práticos.

Com o passar do tempo ficou mais fácil identificar o que está acontecendo em meu cérebro e também os porques, as situações que ativam ou desativam cada um dos dois estados.

Na medida em que a vida se desenrola, vamos colecionando experiências e conhecendo os "gatilhos" que estimulam / desestimulam nossas reações.

Mas mais do que conhecer o que te deixa bem ou te deixa mal, o que importa, visto que evitar situações que te ponham pra baixo é, no mínimo, prudente, é saber controlar o fluxo, quando se sentir em uma das duas pontas da gangorra.

Todo mundo tem histórias tristes e histórias felizes. É humanamente impossível, e nem um pouco saudável, evitar todas as situações que nos stressem ou nos estimulem além da conta. Partindo desse princípio, todos estamos sujeitos a estar em uma dessas duas pontas, em algum momento.

Mas o problema reside em permitir que isso perdure. Qualquer uma das situações pode criar um círculo virtuoso ou vicioso que se auto-alimenta, cresce rápido e, se não controlado, pode trazer graves consequências. Em termos quimicos, se entregar ao stress reduz mais ainda a produção de serotonina e o oposto para uma situação de extrema euforia.

Como se controlar e retornar a um estado mais normal depende de cada um, não existe uma receita única. Alguns praticam esporte, outros dormem, rezam, comem, enfim.

Minha receita particular consiste em procurar a companhia de amigos verdadeiros, tanto em momentos de stress quanto de euforia. Eles nos ajudam a por os pés no chão, a enxergar as situações como elas realmente são (é muito mais fácil analisar outrém que a si próprio, como sabiamente disse Freud) e a dar-lhes a devida importância, ou falta de.

Quando se percebe isso, isto é, que certas situações são inevitáveis, ou não estão sobre seu controle, respirar fundo, repensar certas coisas, sair com os amigos, e tocar o barco basta para brecar estes círculos, nestes casos, maléficos para a saúde mental e até corporal, de euforia ou depressão excessivas.

A maior parte desses momentos não passa de situações corriqueiras e superáveis que, no calor da emoção, parecem maiores do que são.

Imagine, por exemplo, que sua vida fosse uma linha. Essa linha vai sempre em frente, com vales e topos. Quando você está no fundo do vale ou em cima do topo, ou o buraco não tem fim e parece impossível sair dele ou você se sente no topo do mundo, o rei da montanha.

Agora se imagine, olhando esta mesma linha, da lua. Você a veria como uma linha reta sempre caminhando pra frente. Topos e vales sumiriam devido a distância, provando mais uma vez que um certo Einstein tinha razão ao dizer que tudo é relativo.

Aprender a colocar as situações dentro do devido contexto, isto é, aprender a "enxergá-las" da lua, a aceitar e tirar algo das coisas boas e ruins, é condição sine qua non para que tomemos as rédeas e assumamos o controle das gangorras da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário