domingo, 28 de julho de 2013

Impressões sobre o atual cenário político

No ano passado o Brasil foi assolado, do Oiapoque ao Chuí, por uma onda de protestos nunca antes vista na história desse país (plagiando Lula, que mencionarei mais à frente). As manifestações começaram espontaneamente, apolíticas, envolvendo todas as classes e castas que compõem a sociedade Brasileira, em um claro grito de "basta".

Ninguém aguenta mais a roubalheira, o descaso com o dinheiro público e, principalmente, nossos "representantes" no poder legislativo, infestado faz tempo, por tubarões, indivíduos pequenos que estão, com rara exceções, mais preocupados em enriquecer a si e aos seus, do que em trabalhar em prol do Brasil.

Nossas autoridades, municipais, estaduais e de Brasília, lidaram com isso, pelo menos no primeiro momento, com a truculência de sempre, soltando a polícia em cima dos manifestantes e utilizando toda a máquina de repressão do estado.

Em um determinado momento, a situação saiu do controle. Perceberam assustados, que o Brasileiro estava cansado de ser um "bom selvagem" e não aceitaria mais, passivamente, a esbórnia que ronda a classe política nesse país.

Em um misto de culpa e medo, assistiram milhares e milhares de pessoas tomarem as ruas, o telhado do congresso, as estradas, os portos, encarando de frente as forças policiais exigindo o fim da bandalheira e da festa da uva.

Nossos políticos, acostumados a caminhar, há anos, para onde a banda toca, não tardaram em perceber que deveriam se curvar aos acontecimentos ou arriscar uma guerra civil. E não se enganem, estivemos bem perto disso.

Vimos várias demandas centenárias serem aprovadas à toque de caixa com uma celeridade de fazer inveja aos arranques de Usaim Bolt. Mensaleiros sendo presos, propostas de castração do Ministério Público e da imprensa sendo arquivadas e a incorporação, por todos os partidos, do discurso de "mudanças já".

Outro efeito do que vimos nestes últimos meses foi o desgaste da imagem do poder executivo, extremamente arranhado ao meter os pés pelas mãos.

Primeiro porque não souberam responder as demandas da população quando tiveram a chance, negociando e fazendo conluios para conseguir aprovar sua agenda política, depois porque a situação econômica do país vai de mal a pior, com a inflação nas alturas, ameaçando destruir todas as conquistas da última década, principalmente a melhoria da distribuição de renda e, finalmente, porque a nova classe média, que ascendeu e melhorou sua qualidade de vida, não quer mais só comida, quer também diversão e arte.

Os "rolezinhos", fale-se o que quiser, não são mais do que sintomas de uma nova geração de brasileiros da periferia que cresceu com muito mais acesso a informação que seus pais, em famílias com uma renda melhor e que, aos milhares, aos milhões começa a mostrar sua cara, a exigir seus direitos.

Os movimentos anarquistas, "black blocs", contrários a qualquer tipo de governo, protestam de forma violenta, destroem o patrimônio público e, as vezes, cometem barbaridades que terminam em sangue e morte, como o triste caso do cinegrafista Santiago Andrade.

Mas, goste-se ou não, eles não passam da ponta do iceberg de um povo cada vez mais cansado dos desmandos de seus governantes. A sensação de exploração, de impotência e de revolta, cria um ambiente ideal para este tipo de movimento.

A história nos ensina o que acontece quando os governantes se distanciam e ignoram os anseios de seu povo. A revolução francesa, nada mais foi do que uma revolta popular contra uma classe dominante completamente alheia as necessidades de seus cidadãos. 

A França sobreviveu a revolução se tornando o farol que norteou e norteia até hoje, os ideais do mundo ocidental, "Liberté, égalité, fraternité".

Mas não se pode dizer o mesmo da nobreza, do Politítcheskoe Byurô (Politburo) francês. Como representantes de um passado pré-histórico, pagaram com suas vidas, transformadas em rios de sangue jorrando das guilhotinas da Place de Concorde, o preço de anos e anos de alienação e soberba. 


O Brasil elegeu, sem medo de errar, o pior congresso nacional de toda sua relativamente curta história republicana. Temos de tudo ali, menos políticos. Além disso, o poder executivo tratou de mostrar sua veia estatizante e intervencionista, lidando com um princípio de crise econômica de maneira atabalhoada, ameaçando arrastar o Brasil para um cenário perigoso e caótico.

Em um ambiente econômico instável, em que as regras e a taxa de juros mudam de acordo com os ventos que sopram na granja do Torto, as empresas não investem, os investidores tiram seu dinheiro do país, o dólar se valoriza mais do que sorvete no deserto e a inflação dispara.

A reeleição de Dilma, antes dada como certa, agora é uma incógnita. Ela não conta com a simpatia de Brasília, aí inclusos aliados, membros da oposição e até de algumas correntes do próprio PT.
A aprovação de sua agenda legislativa esta cada vez mais difícil. Guido Mantega, o ministro da fazenda fanfarrão, que perdeu toda sua credibilidade com o empresariado e o mercado, entregará, neste ano e no próximo, o pior crescimento do PIB das últimas décadas o que ameaça diretamente empregos e os demais ganhos conseguidos nesses anos...

Atacar estes problemas na raiz, é a grande missão do povo brasileiro para 2014. Já esta na hora de aprendermos a votar. Chega de eleger qualquer coisa! Chega de ir a cabine de votação sem um candidato e votar no primeiro que nos dê um santinho!

Cabe a sociedade escolher o Brasil que quer viver. Nas ruas já dissemos que estamos insatisfeitos. Devemos transformar esta insatisfação em um grande pé no traseiro dessa geração de sanguessugas e eleger políticos sérios para colocar, de uma vez por todas, este país nos trilhos.

E cabe a classe política, para seu próprio bem, decidir de vez qual sua participação neste processo, agentes essenciais para mudanças em prol de uma sociedade mais justa ou se tornando vítimas pré-históricas da justiça popular.

5 comentários:

  1. Ótimo texto Renato!
    Penso como você, mas jamais conseguiria escrever com tamanha clareza.
    Confesso que sou meio pessimista em relação a alguma mudança neste cenário atual, creio que quem elege este governo não está nas manifestações e não entende a profundidade disso tudo.
    Mas vamos fazer a nossa parte, estimular o diálogo e debater sobre o assunto.
    Parabéns pelo seu blog. Sucesso!!

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    1. Oi Cintia,
      É o que penso e o que podemos fazer, ficar em cima e estimular o debate. Quem sabe ano que vem não temos uma surpresa boa?

      Além disso, valeu pelo comentário. :)

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  2. Otimo texto.

    O que eu acho que o Brasil nao tem um projeto de pais. Por exemplo, estamos muito mal rankeados em termos de educacao, infraestrutura, facilidade para se fazer negocios, alem de sermos (economicamente) o pais mais fechado do mundo, segundo o Banco Mundial. E nao vejo nenhum politico com projetos para fazer o pais melhorar nesses rankings, soh se pensa na proxima eleicao. Alias, acho que nem discutem isso.

    Um exemplo...voce sabe que o Brasil eh um pais protecionista porque as empresas brasileiras quebrariam se diminuissem as estratosfericas taxas de importacao. Logo, o pais acaba isolado com industrias que so podem abastecer o mercado nacional e mesmo assim por causa da "protecao".

    Sera que algum governo, como fizeram na Coreia do Sul e em Taiwan, diria algo como: "Em 5 (ou 10) anos, as taxas vao baixar, entao prepararem-se (empresarios brasileiros) para se tornarem mais competitivos e melhorarem seus produtos". Claro que nao fariam isso e pior: o governante seria visto como aquele que quer "vender o pais a estrangeiros". Dai, fica dificil que o Brasil se torne uma potencia industrial, estamos num circulo vicioso que nao se rompe.

    Acho que o problema eh de mentalidade tambem. E isso, meu caro, eh dificil resolver.

    Enfim, longo texto, espero que seja compreensivel. E seu livro eh sobre o que?

    Um abraco do Dick Vigarista.

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  3. Ah, esqueci de comentar:

    Dilma (ou Lula), Aecio Neves, Marina, Eduardo Campos...nao gosto de nenhuma dessas opcoes. Sao todos com pensamentos retrogrados e que nao vao sequer cogitar fazer as mudancas que o pais tanto, tanto precisa.

    Dick Vigarista

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  4. Estou com medo da atuação situação Dick. Não quero voltar ao tempo em que se fazia compras no supermercado no dia em que se recebia salário, pois a inflação destruía o poder de compra em horas. Além disso, concordo em gênero, número e grau com você, quando diz que falta um projeto coerente e de longo prazo para o país, principalmente em educação, que é a mola que faz qualquer país mudar e avançar.

    Sobre o livro, não posso dizer em muitos detalhes mas estou com um outro blog eu e a co-autora, que discute e mostra alguns excertos e todos os passos de nosso processo criativo.

    Abraço cara.

    muteolivro.blogspot.com.br/

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