sexta-feira, 5 de julho de 2013

Saber ouvir

Depois de um período de alguns anos, resolvi voltar a fazer terapia. Se fosse gratuita, diria que todos nós deveríamos consultar um psicólogo.

Um terapeuta está ali para ouvir todos os problemas, todas as neuras, fobias, enfim, todo um lado de nossa personalidade que, as vezes não compreendemos e não sabemos lidar.

Ele não te julga, aliás, não é nem seu papel, pelo contrário. O papel principal de um psicólogo é fazer com que você consiga compreender o funcionamento da sua mente, a lógica de suas ações para, ou aceitá-las ou mudá-las, se você se convencer que isso é importante.

Além disso, ele é pago para ouvir tudo que você tenha a dizer. Todos nós temos a necessidade de por pra fora o que sentimos. Convenhamos que, se você fizer isso rotineiramente com amigos, colegas de trabalho, no seu relacionamento ou família, uma hora alguém explode ou as pessoas se afastam. História triste, todo mundo tem e, nada mais chato que ficar ouvindo um amigo todos os dias falando sobre os mesmos assuntos, seus problemas, fazendo de você seu psicólogo particular.

Não temos nem tempo, nem cabeça nem treinamento para isso. Um analista profissional tem todo o tempo do mundo (ou pelo menos parece ter, até aquele reloginho que nunca esta a vista, "avisa" que "nosso tempo acabou por hoje"), tem o treinamento e o conhecimento teórico necessário para escutar e comentar, de forma produtiva, além de conseguir o mais difícil, esquecer suas próprias adversidades para encarar, com peito aberto, os de seus pacientes.

Para alguém como eu que tenho uma dificuldade tremenda em me comunicar, em me abrir totalmente, de me expressar meus medos, fraquezas, problemas, é um desafio enorme.

Por outro lado, sempre foi uma experiência gratificante. Falar sem censuras, procurar me entender, ter alguém disposto a me ouvir e passar feedbacks importantes que me fazem pensar e divagar...

Para mim nada muda enquanto eu não me convencer que determinado curso ou ação que tomo, não é o melhor. Por mais que eu "saiba" que não estou agindo corretamente, só sendo convencido de forma racional, que estou errado, consigo me programar para funcionar de forma diferente.

Mas é para isso que minha terapeuta esta ali. Para me ajudar a compreender como funciono. Para, com comentários, observações e, as vezes, pauladas, ajudar a identificar, compreender e, eventualmente, resolver minhas neuras.

Em uma de nossas primeiras conversas, falamos de um tema extremamente importante para que a terapia seja realmente efetiva:

Aprender a ouvir, sem medos, sem inventar histórias para si, aceitando o que está sendo colocado sem entrar em modo de autodefesa.

As respostas sempre estão em nós mesmos. O psicólogo só te ajuda a encontrá-las. Não adianta nada se você não o escutar de verdade.

Quando falei de meu tempo prévio de terapia, ela me disse: "eu falava uma série de coisas para você, mas será que você realmente ouvia?"

Ela tem razão! Quando falava comigo em tempos idos, eu a ouvia e não a escutava. Ou ouvia quando me era conveniente...

Uma postura que, mesmo que inconsciente, passa um ar de arrogância tremendo que normalmente faz com o interlocutor exiba uma certa antipatia por suas ideias, palavras, antes que você tenha chance de expô-las.

Hoje, mais maduro, com mais experiências boas e ruins, consigo entender a importância deste conceito, de saber ouvir. Todo mundo quer partilhar suas experiências, suas ideias, o mundo é feito de várias e para várias pessoas. Quem não consegue empatizar com seu semelhante, tem sérias dificuldades de se inserir no mundo e, arrisco dizer, de ser feliz...

Um dos componentes mais importantes da felicidade é ter carinho e amor, seja em um relacionamento, amigos, família e, saber ouvir, é uma condição sine qua non para fechar essa equação.

Como diria o sensacional escritor americano, Charles Bukowsky: "Um ouvido aberto é o único sinal acreditável de um coração aberto".

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