terça-feira, 9 de julho de 2013

Meu avô Zé

Hoje acordei pensando em meu avô. Zé Recife, mineiro de Uberaba, cidade de minha família materna, onde passei muitos julhos e verões.

Meu avô cresceu em uma fazenda, se casou ainda jovem com minha avó (que casal bonito faziam, lembro de uma foto dos dois, provavelmente com menos de 30 anos, pareciam dois artistas de cinema), e era o patriarca de uma família de 6 filhos e quase 30 netos.

Meu avô era um homem de falar pouco, gentil e que adorava a vida.

Adorava jogar buraco. Seu Zé lixava até a alma, chegava a ser irritante como não deixava passar nenhuma carta, ficava com a mão sempre lotada e, quando você pensava que iria lhe dar uma surra histórica, ele descia seu jogo e fatalmente ganhava a partida. Passávamos horas e horas nesse passatempo.

Era uma das poucas pessoas com quem eu falava da minha vida. Conversávamos de tudo. Meu avô me escutava calado, as vezes fazia um ou outro comentário, do alto da sabedoria que só quem viveu muitos anos possui, que me confortavam e me faziam pensar.

Infelizmente o cigarro de palha que fumou a vida inteira cobrou seu preço. Meu avô teve um derrame que lhe deixou com sequelas. Mas meu avô era um lutador. Mesmo com todos os problemas físicos que enfrentava, estava sempre sorrindo, nunca o ouvi reclamando da vida e dava sempre um jeito de caminhar quilômetros, todas as manhãs. As vezes eu o acompanhava nessas caminhadas só para poder conversar. E lá ia meu avô me ouvindo falar por horas, sem dizer quase uma palavra. Ele sabia o quanto era importante para mim desabafar e como eu tinha dificuldade de fazer isso.

Adorava filmes, principalmente aqueles faroestes antigos, estilo Clint Eastwood. Quando ele ia em casa, eu sempre alugava alguns para podermos assistir juntos.

Sua saúde foi ficando mais debilitada ao longo dos anos. Não era uma situação fácil para ele, para minha avó, para todos nós. Mas ele continuava ali, sem reclamar.

É muito duro você ver uma pessoa querida ir morrendo lentamente, sem você poder fazer nada. Eu queria ter estado mais próximo dele nessa época mas eu não conseguia. Não conseguia ver aquele cara que foi meu segundo pai, um cara que eu admirava, que me ensinou tanto, que foi meu companheiro, que me consolou quando eu precisei e estava do meu lado sempre, daquele jeito.

Quando ele morreu, eu não estava no Brasil, estava passando férias em Cancún. Minha família esperou que eu voltasse de viagem para me dizer o que tinha ocorrido. Fiquei muito tempo chateado com minha mãe por isso.

Hoje vejo que no fundo me culpava por não estar com ele naquele momento. Por não ter estado mais próximo naqueles anos finais de sua vida. É uma culpa e um fardo que carrego. 

Mas as lembranças de tudo o que partilhamos juntos, de tudo que aprendi com ele, de seu sorriso gentil, sua fala mansa e seu carinho também estarão comigo para sempre.

Grande Zé Recife.


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